Odete Francisco embora tenha nascido na Cova da Piedade (Almada) há 39 anos, o seu coração cedo tornou-se beirão. Com apenas 3 anos de idade foi viver para uma pequena aldeia, do concelho de Arganil. É um lugar onde “eu sinto-me como se de verdade nascesse, em Sobral Gordo .Tive uma infância muito feliz, com algumas privações e limitações, mas sempre com muito amor e muita compreensão”, recorda com emoção. A sua mãe trabalhava no campo, embora nunca tenha aprendido a ler, enquanto que o seu pai trabalhava fora da aldeia, como motorista de carros de aluguer.
Aprendeu as primeiras letras na aldeia e considera-se privilegiada por ter concluído a Primária, antes da escola encerrar de vez. Prosseguiu os seus estudos em Côja, uma aldeia ao lado para fazer o 5º e o 6º anos.E ficou por ali. As dificuldades económicas assim o decidiram: "para fazer o Secundário tinha que ficar em Arganil durante a semana"…
Aí ficou durante 17 anos, até que o seu irmão casou e levou-a a morar com ele para Almada. Foi “para me dar outra vida, que não a agricultura”,explica. Com essa mudança, tem uma segunda oportunidade para concluir o 9ª ano, enquanto trabalha numa fábrica de confecções em Santa Marta de Corroios (Seixal). Aí ficou durante catorze anos, até a fábrica encerrar. Através do fundo de emprego foi trabalhar para uma escola, como auxiliar de Acção Educativa, onde aproveita e frequenta o programa das Novas Oportunidades para completar o 12º ano. Entretanto, casou e teve uma filha, que tem agora 16 anos de idade.Curiosamente o seu marido, embora tenha nascido em Almada, tem raízes muito próximas de Odete :“os meus sogros são naturais da Fornea (Piódão)”.
Mesmo longe, nunca se esqueceu da sua terra: “A minha relação com a Beira é muito, muito forte. Adoro, venero e respeito tudo o que tem a ver com a minha região geográfica. Defendo-a com unhas e dentes. É em Sobral Gordo que eu passo as minhas férias, o Natal a Páscoa. Todo o tempo livre que tenho é para a minha aldeia que eu me direcciono”,afirma Odete com muito orgulho. Depois de ter saído de lá, procurou acompanhar a realidade da sua aldeia de uma forma bastante activa: desde os 18 anos faz parte dos Corpos Gerentes da Comissão de Melhoramentos de Sobral Gordo. Ao longo destes anos desempenhou todos os cargos da Comissão: desde vogal, secretária da direcção e da assembleia-geral, a presidente da direcção.
Mas o seu maior desafio foi a criação de um Grupo Folclórico de Sobral Gordo, em 2003: “eu e dois amigos decidimos formar um grupo folclórico. Como(…) havia algumas pessoas que tocavam concertina e instrumentos de cordas, tipo viola, bandolim e banjo, achámos que estavam reunidas as condições mínimas para formar o grupo. Formou-se, cresceu e chegámos onde estamos hoje.” O dia 15 de Agosto de 2003 foi um dos dias mais marcantes para si e para a aldeia: “É as lágrimas de alegria derramadas, cheias de orgulho, satisfação e felicidade, quando o Grupo Etnográfico actuou pela primeira vez”, diz Odete emocionada.
O apoio incondicional e a grande força de vontade e determinação dos habitantes e de simpatizantes, incluindo a sua filha e os seus sobrinhos, motiva Odete a fazer algo para melhorar a realidade da aldeia.
Por tudo isso, Odete sente-se uma mulher beirã realizada e feliz a todos os níveis!
11 comentários:
Grande mulher, que ama de verdade a sua terra. Mulheres destas é que dão dignidade ao nosso País, mas infelizmente nem sempre apoiadas nos seus sonhos. Beijo grande.
Olá!
Queria apenas realçar que esta entrevista foi possível graças à dica da bloguista Lourdes Martinho do blog "O Açor". Parabéns a ambas que são duas grandes mulheres,com raízes beirãs.
PS.: alguns erros de português na entrevista.
Beijos
Liliana Rito
Tive muito gosto em ter respondido a esta entrevista.
Agradeço à Dra. Lurdes Martinho, (Açor) por ter dado o meu contacto.
Assim como agradeço aos responsáveis deste blog, por me terem concedido a possibilidade de uma vez mais divulgar a minha terra, a minha cultura e as minhas raízes.
Senti muito orgulho quando vi publicado este texto.
Um forte abraço a todos que não esquecem as suas raízes, as suas origens.
(Sinto muito, muito orgulho, em ser uma mulher da Beira)
Odete Francisco
Um abraço para a Odete Francisco que respira a Beira Serra por todos os poros e não esquece as raízes beirãs nem a sua terra natal.
António Manuel Silva
Olá!
A Odete é um exemplo que nos mostra a raça das mulheres da serra do Açor.
Ela conseguiu o mais difícil que foi motivar os jóvens. Os mais velhos passaram pelas dificuldades da vida na serra e os poucos momentos de convívio eram passados nos bailaricos da aldeia e nas festas e romarias das aldeias vizinhas.Não admira que gostem da sua música. Mas, os mais novos, fruto doutra época que muitas vezes "goza" com o nosso folclore mais genuíno é de admirar que sigam o grupo com o entusiasmo com que o fazem.
Parabéns Odete pelo trabalho que desenvolves em prol da nossa região.
Parabéns Susana pela contribuição que prestas dando a conhecer pessoas que são um exemplo para cada um de nós, qualquer que seja a actividade em que se destacam.
Beijinhos
Lourdes
este eu não conhecia ... sua narrativa consegue desvendar tudo ... beijo.
Parabéns Amiga Odete pela sua determinação e pelo seu amor pela nossa serra.
Mulheres como a Odete prestigiam e dignificam sempre o local onde estão seja longe ou perto das suas raizes, porque elas estão sempre presentes.
Um abraço
Maria do Céu
Odete;
Se sâo permitidos comentários de homens beirões, parabés pela defesa de tanta cultura ainda tão desconhecida dos grande centros e litoral.
Como beirão que sou orgulho-me imenso das minhas raízes e dos homens e mulheres que sempre lutatram para que as suas tradições sejam guardadas, mantidas e defendidas.
Obrigado Susana por ter publicado tão belo post
bjs,
Osvaldo
Muito boa noite. Ainda que não o conheça muito lhe agradeço o comentário que o Senhor aqui deixou.
Se quiser e tiver disponibilidade visite, o site do Grupo Etnográfico Raízes de Sobral Gordo, ou o Facebook. (Raízes de Sobral Gordo). Com certeza irá apreciar.
Respeitosos cumprimentos.
Odete Francisco.
Odete, tudo bem?
Se você é como eu que sente falta da Tertúlia Virtual, por favor, deixa um comentário neste link lá no Varal de Idéias.
http://cimitan.blogspot.com/2010/12/comentarios-que-valem-um-post_14.html
Estamos tentando reviver aqueles bons momentos da Tertúlia.
Um abraco
Minhas Boas Amigas,
Venho visitá-las para lhes desejar a continuação de Boas Festas e um Ano 2011 cheio de Feicidades.
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