quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DA ARTE DE BEM VESTIR (1ª parte)

(Imagem cedida por Francisca dos Prazeres)

Era uma vez uma menina chamada Francisca dos Prazeres. Nascida em Estremoz no ano de 1928, sempre foi uma rapariga muito bonita e aprimorada. Fazia parte de uma família estabelecida de 7 irmãos. A escola não sendo obrigatória, a pequena opta por deixar de estudar no final da 3ª classe e passar a ajudar em casa. Na passagem para a idade adulta, a mãe sugere-lhe um curso de costura em Lisboa. “Sempre tive um certo prazer na costura. Sentia isso dentro de mim. Aceitei, fui para Lisboa e tirei o curso de corte”, realça. Pouco tempo depois de regressar a terra natal, inicia actividade como modista. “No princípio, a minha clientela era a minha família. Depois, as pessoas na rua gostavam muito de ver os meus trabalhos. A palavra espalhou-se. Iam até casa pedir-me se podia fazer roupa para elas”, explica. Desse modo, e graças ao seu talento, consegue um número elevado de clientes.

(Imagem retirada da Internet)

Aos 27 anos, num baile de Natal, encanta-se com um belo moço brasileiro. O jovem contabilista estava no Alentejo a trabalho. Após 8 meses de namoro, oficializam a união, casando num belo dia de Setembro. “Fui virgem para o altar. Tive alguns namoricos, até estive prestes a casar aos 25 anos. Não aconteceu. Nessa noite do baile, encantei-me com a beleza e a candura do Acácio”, salienta. Casados, mudam-se para a vila de Castro Daire (Distrito de Viseu) para estarem próximos da família do cônjuge. No entanto, o marido toma a decisão de irem viver para Lisboa. “Tinha a ideia de que na capital iria ganhar mais. Lá fui. Mas ainda voltamos para Castro Daire e novamente para Lisboa. Foi assim umas idas e voltas de escolha para morarmos”, conta. O mais caricato é ter os seus dois filhos terem nascido em sítios diferentes: a menina em Castro Daire e o menino em Lisboa. Contudo, estas andanças acabam por saturar Francisca e terem consequência no seu trabalho. “Em Castro Daire, eu tinha 5 empregadas e clientes habituais. As pessoas conheciam-me bem e gostavam de mim. Tinha um atelier em casa. Ao ir repetidamente para Lisboa, aborreceu-me e deixei uns tempos de coser”, confessa com alguma tristeza. Mas as mudanças não acabam por aqui. A modista chega a viver uma temporada em Évora, Mira D’Aire e Porto. Emigrar ainda passa pela cabeça de Acácio. Francisca recusa, prefere ficar em Portugal com os filhos. “Ele ainda matutou nisso. Eu não quis e propus que ele fosse visitar a família, preparar uma vida lá e os miúdos e eu iríamos lá ter. Então ele falou que se não íamos todos, não iria ninguém”, remata. Finalmente, fixam-se na cidade de Viseu.

Leia na próxima quarta-feira como foi a sua adaptação nesta cidade e episódios relevantes que demonstram bem a sua força de viver…

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

OS 3 Fs DE UMA JOVEM BEIRÃ: FAMÍLIA, FRATERNIDADE E FORMAÇÃO (parte 2)

(Foto cedida por Ana Ribeiro)


No entanto, a figura materna continuava a ser tudo para Ana, repartindo esse sentimento com a irmã, 5 anos mais velha. A partida do pai tinha reforçado os laços entre as três. Após 6 anos de vida em trio, a matriarca toma uma dura resolução: juntar-se ao marido na Suiça. “A minha mãe confiava muito em nós. Explicou-nos que já éramos umas mulherzinhas que saberiam cuidar-se e que o lugar dela seria agora ao pé do meu pai”, relata a jovem com um aperto no coração. Assim foi. Ana ficou muito abalada, pois como filha mais nova, era a mais “mimalha”. A responsabilidade recaiu toda sobre a irmã, pois com 20 anos, ia ter que cuidar da casa, das contas e da irmã caçula. “Desde os meus 15 anos, a minha mana passou a ser indispensável na minha vida. Tornou-se a minha melhor amiga, a minha confidente e até uma espécie de mãe. Claro que a minha mãe terá sempre o lugar dela no meu coração. Mas também criei um elo de ligação fortíssimo com a minha irmã”, refere emocionada. A ida da mãe para a Suiça ainda causa algum impacto negativo nas notas escolares. Porém, Ana reergue-se dizendo a si própria que tem de provar que consegue. “No 10º ano, pensei que não ia desleixar-me. Ia tirar excelentes notas para a minha mãe ter orgulho e para entrar no curso de Fisioterapia. Consegui ter 18 e 20. Se calhasse não ter uma nota acima dos 15, eu chorava”, descreve.


Escola Secundária de Santa Comba Dão (Imagem retirada da Internet)

Contudo, a irmã acaba o curso universitário e opta por regressar a Santa Comba Dão, levando Ana com ela. Foi um período difícil. Deixou os amigos, o desporto, e consequentemente, as notas baixaram um pouco. “Voltei para um sítio pequeno no qual não reconhecia nada. Já não me identificava com aquele lugar como antes.” Apesar disso, na Secundária de Santa Comba Dão, os colegas recebem-na de braços abertos. Paralelamente, Ana apercebe-se que o nível de ensino numa escola pequena é tão duro quanto o de uma nas grandes cidades. As notas ressentem-se e o sonho do curso de Fisioterapia desvanece. Até hoje, a jovem não entende o que se passou. “Andava desanimada. Não conseguia memorizar como antes, ter aquela energia de antes. Se calhar, essa última mudança afectou-me mais do que eu pensava”. Desiludida, acaba por escolher um curso que, no fundo, pode até nem ter sido por acaso: Enfermagem Veterinária na cidade de Viseu. “Estava a ver as listas de cursos e seleccionei esse. Depois minha mãe lembrou-me que em pequena, eu só falava que queria trabalhar com animais e tratar deles”, recorda. Este ano, é finalista. As fases em que pensava desistir já lá vão e actualmente quer aprofundar os seus conhecimentos com formações, mestrados, e outros… “Quero adequar a minha paixão pela fisioterapia ao meu curso. Tive um dia de formação em fisioterapia veterinária. Fiquei fascinada. Quero saber mais sobre todas essas técnicas, inclusive a acupunctura em animais”, anuncia determinada. Com plena consciência da realidade socio-económica do País, Ana sabe que terá de lutar pelos seus ideais e ser versátil. “A minha vida é uma aventura. Não sei o que me vai acontecer no futuro, se terei emprego ou não. Mas vou fazer por isso e por ser muito feliz”, finaliza, esperançosa.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

OS 3 Fs DE UMA JOVEM BEIRÃ: FAMÍLIA, FRATERNIDADE E FORMAÇÃO (parte 1)

(Foto cedida por Ana Ribeiro)

Ana Ribeiro, 21 anos, finalista do curso de Enfermagem Veterinária é encantadora e bem-humorada. Desde pequena, guia-se segundo três grandes valores: a ligação à família, a dedicação aos estudos e a sede de novos conhecimentos.
Apesar de ter nascido em Coimbra, Ana passa os primeiros anos da infância na terra natal dos pais: Santa Comba Dão. Um dia, o pai decide emigrar para a Suiça no intuito de melhorar a vida familiar e antecipar financeiramente as futuras idas das filhas para a universidade. A sua irmã mais velha, a mãe e ela optam por mudar-se para Coimbra. Com apenas 9 anos, descobre a diferença entre morar numa aldeia e numa cidade. “Antigamente, em Santa Comba, andávamos de bicicleta na rua. Brincávamos em total liberdade. Não havia tantos carros. Na cidade, havia sempre mais perigos e uma intensa movimentação”, conta. A partida do pai é assim atenuada. Ana sente saudades, mas não pensa muito nisso. “Ir para Coimbra foi como uma aventura. Ia entrar para o 5º ano, para uma escola maior. Enquanto na aldeia, todos se conheciam. Ali não. Ia encontrar todos os dias pessoas diferentes. A ida do meu pai não me custou tanto. Sabia que ele regressaria rápido e com prendinhas. Era pequenina”, explica sorrindo com a recordação. Para apoiá-la na sua integração social e escolar, a mãe sugere uma visita ao psicólogo do estabelecimento de ensino. Mãe extremosa, vê nessa ideia uma maneira de a ajudar a abrir-se e a inserir-se no meio dos colegas. “Fiz a vontade à minha mãe e foi fantástico. Tanto, que no meu 7º ano, pedi para ir de novo ao psicólogo da escola. Adorava poder falar de tudo, sabendo que nada sairia de lá. Um pouco como num confessionário”, revela com um gargalhada sonora. E prossegue, “fazia também jogos de raciocínio e de memória. Foram momentos proveitosos que encarei como desafios”.
(Imagem retirada da Internet)
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Outra área que a motivou a evoluir enquanto pessoa, foi o Basquete. No 6º ano, Ana era alta e um pouco redondinha. Um dia, o treinador da equipe da escola perguntou-lhe se gostaria de experimentar. “Aceitei. Sabia que me ia custar imenso porque eu era muito sedentária e gulosa. Era sofá, estudos e televisão”, confessa. Esta modalidade desportiva permitiu-lhe expandir-se, chegando até a jogar nos Seniores e a ser federada. “Joguei dos 11 aos 16 anos. Acho que para um jovem, o desporto é excelente. Eu era introvertida, envergonhada e metida no meu canto. Graças ao Basquete, deixei de o ser. Fiz amigos e interagi. Até convivi com pessoas de diferentes países e culturas no ano em que participamos num torneio em França”. Hoje, é uma mulher comunicativa e extrovertida, aderindo a iniciativas que realçam essas facetas. “Nestas férias de Verão, associei-me ao projecto dos campos internacionais de trabalho, organizado pelo Instituto Português da Juventude. Lá, fizemos a Aldeia do Teatro e a Calçada Portuguesa, por exemplo. Lidei com jovens vindos da Coreia, da Turquia, ou seja, de diversos países europeus. E também de muitas regiões portuguesas”, menciona com enorme satisfação.

Na próxima quarta-feira, veremos a importância da família na vida de Ana e a sua realização profissional.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

JUNTOS, VAMOS AJUDAR ISABELA NO “CAMINHO PARA O SEU SONHO” (PARTE II)

(Isabela, depois do acidente - foto cedida por www.isabelahope.org)


Num belo 1º de Maio, Isabela estava feliz. Acabado o serviço na barbearia, galgou a sua mota e preparou-se para ir ter com amigas e namorado à praia. Tudo corria na perfeição até chegar ao cruzamento da Avenida das Índias com o Museu dos Coches. Dois semáforos: um verde, outro mais à frente vermelho (conforme testemunhas do carro). “Era e sou responsável e não tinha o hábito de infringir o sinal. Se calhar, no momento em que me apercebi que estava vermelho, já era tarde demais e batia no BMW”, relata a jovem. O acidente foi grave. O seu corpo amassou o depósito da sua mota, dando a ideia de que se teria encolhido para proteger-se do embate. “Fui projectada para o chão e dizem que balbuciei uma frase. Penso que foi «Por favor, não me tirem o capacete» e desmaiei”, descreve, recordando muito pouco da tragédia. Os ferimentos foram de um grau impressionante: dois braços e duas pernas fracturados, bacia partida e lesão na vértebra D12. Maio de 2006, Isabela fica paraplégica. “Estou numa cela sem grades. Era uma pessoa tão activa. Custa-me. Confesso que, por vezes, já tive momentos de desespero”, reconhece.



(Isabela, depois do acidente - foto cedida por www.isabelahope.org)


No entanto, existe uma luz ao fundo do túnel, uma esperança de voltar a andar: uma cirurgia no Centro Internacional de Restauração Neurológico (CIREN), em Cuba. A operação consiste em despressurizar a zona afectada da medula e retirar fragmentos de ossos lá alojados. O valor do tratamento ronda os 30.000 Euros e engloba avaliações, tratamentos por ciclos de 28 dias e intervenção cirúrgica. A sua partida depende da angariação de 13.000 Euros. Pois, 17.000 já foram conseguidos em diversas acções de solidariedade levadas a cabo por familiares, amigos, associações de dança, pesca, BTT, grupos de motards, oriundos de vários pontos do País… O caso da Isabela também teve destaque em 3 canais principais de televisão (RTP2, SIC e TVI). “Eu era Non Stop Girl e gostava muito da vida que tinha. Quero-a de volta. Sonho em voltar a andar, comprar a minha casa sozinha, ser mãe, ser feliz e fazer feliz”, exclama com fé. E deixa um apelo: “Por mais pequeno que seja o donativo, para mim é grande (…). Continuem a passar a mensagem, eu quero voltar a andar, a esperança não ma tirem. Perdi a felicidade em segundos, hoje sorrio só com os lábios, sem alma nem coração. Façam com que o vento volte a bater na minha cara, com que eu volte a ser feliz”.

Ajude: o seu Comentário é o seu Contributo!

Nota: o texto (parte 1 e 2) foi baseado em dados cedidos pela Isabela, pelo site http://www.isabelhope.org/ e pelo blog http://www.hopeisabela.blogs.sapo.pt/. As fotos foram cedidas pela própria, através do site www.isabelhope.org

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

JUNTOS, VAMOS AJUDAR ISABELA NO “CAMINHO PARA O SEU SONHO” (PARTE I)

(Isabela, antes do acidente - foto cedida por http://www.isabelhope.org/)

Hoje, iremos contar-lhes a história de vida de Isabela Marques. Não é beirã, nem vive na Beira. No entanto, precisa de todos nós, e neste Natal, decidimos ajudá-la. Desse modo, a Olho de Turista organiza a campanha de solidariedade “A Caminho do Meu Sonho”, de 10 a 30 de Dezembro. Quer contribuir de forma simbólica? Basta deixar o seu comentário aqui no Clube, nos dois textos relativos à Isabela e/ou nos textos da Blogagem de Dezembro do blog http://www.aldeiadaminhavida.blogspot.com/. A Olho de Turista doará 0,01€ por cada comentário. Para saber mais, espreite o referido blog (lá pode encontrar informação bancária para eventuais donativos individuais e links referentes a Isabela).

Era uma menina-mulher cheia de vida. Sabem, daquelas que o povo fala a brincar: “Ó rapariga, és movida a pilhas com tanta electricidade”. Desde cedo, Isabela aprendeu a viver de forma independente e responsável. Nasceu em Luanda (Angola) num belo dia de Junho de 1974. A cidade estava debaixo do clima da Guerra Colonial. Nada era previsível e tudo era inseguro. Única saída: Portugal. A mãe foge com ela para terras lusas e o pai, sargento paraquedista, regressará como ferido de guerra. Em Linhó (concelho de Sintra), a mãe de Isabela respira de alívio, conseguindo ter uma vida mais tranquila. A uma dada altura, a filha decide deixar de estudar e empenhar-se na sua meta individual: ser autónoma. Aos 19 anos, extremamente apaixonada, casa-se. Aos 24, divorcia-se. “Não admiti ser traída. Treze dias depois, peguei só nas minhas coisas pessoais e fui embora. Não queria partilhar algo que me fizera infeliz. Partir do zero era o meu novo propósito”, relata objectiva. Isabela é uma mulher de garra. Nesse episódio da sua vida, ela resolve alugar uma casa, trabalhar e estudar. “Arranjei coisas usadas para a casa, consegui um part-time e voltei a estudar à noite”, descreve com firmeza. E acrescenta, “também continuei na equipa de Futebol de 5 do Casal do Rato, na qual era guarda-redes”. O futebol foi uma paixão que durou 13 anos. A jovem ia a correr para os treinos, entre furos de aulas e até chegava a assistir a última ainda equipada.
Como não se considera nem “menina do papá, nem da mamã”, sempre trabalhou para obter o que queria. Algum tempo depois, com dinheiro poupado, aluga uma casa no Cacém e compra mobília e electrodomésticos. Após concluir o 12º ano, opta por tirar o curso técnico-profissional de Secretariado, no horário da noite, pois era trabalhador-estudante. Termina-o com muita satisfação pelo feito alcançado.


(Isabella, antes do acidente - foto cedida por www.isabelhope.org)

Apesar de abandonar o futebol, o desporto faz parte integrante do seu corpo e da sua mente. Isabela é uma amante verdadeira do exercício físico. Por amor, dedicava-lhe 3 horas, cerca de 3 a 4 vezes por semana. “No ginásio, fazia uma hora de cárdio e outra de musculação com o Luís. Praticava Step com a professora Cristina Rocha, Kickboxing com o Mestre Ramos, Bodycombat e Bodypump com a Paula Castro e o Fausto”, descreve emocionada. Além disso, ainda tinha tempo para a família, os amigos e um emprego full-time e outro em part-time. “Esses 4 anos foram os melhores da minha vida sozinha”, assegura. Entretanto, conhece M. com o qual namora e inicia uma vida em comum. À uma dada altura, o companheiro propõe-lhe a compra de uma casa. Isabela recusa por a mesma ter um preço acima das suas posses. Simultaneamente, arranja um part-time na secção de Material de Montanha da Decathlon, a fim de adquirir uma mota nova. Uma paixão que Isabel nutre há já muitos anos paralelamente com o Desporto. “Eu pretendia trocar de mota e M. queria oferecer-ma. Respondi-lhe que não. Queria merecê-la. Sempre lutei pelas coisas e consegui mais essa”, afirma com orgulho. Contudo, a relação com M. dura 3 anos, até ele se apaixonar por outra pessoa.
Sem mágoas, Isabela retorna à casa materna, com um novo objectivo em mente: comprar casa própria com os seus recursos. Para tal, soma um terceiro part-time: limpezas numa barbearia. Porém, o feriado de 1 de Maio de 2006, deita por terra o sonho e as ambições de Isabela.

Na próxima quarta, não perca o relato do acidente e a esperança no tratamento em Cuba…

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Nota: o texto (parte 1 e 2) foi baseado em dados cedidos pela Isabela, pelo site http://www.isabelhope.org/ e pelo blog http://www.hopeisabela.blogs.sapo.pt/. As fotos foram cedidas pela própria, através do site www.isabelhope.org