quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DA ARTE DE BEM VESTIR (1ª parte)

(Imagem cedida por Francisca dos Prazeres)

Era uma vez uma menina chamada Francisca dos Prazeres. Nascida em Estremoz no ano de 1928, sempre foi uma rapariga muito bonita e aprimorada. Fazia parte de uma família estabelecida de 7 irmãos. A escola não sendo obrigatória, a pequena opta por deixar de estudar no final da 3ª classe e passar a ajudar em casa. Na passagem para a idade adulta, a mãe sugere-lhe um curso de costura em Lisboa. “Sempre tive um certo prazer na costura. Sentia isso dentro de mim. Aceitei, fui para Lisboa e tirei o curso de corte”, realça. Pouco tempo depois de regressar a terra natal, inicia actividade como modista. “No princípio, a minha clientela era a minha família. Depois, as pessoas na rua gostavam muito de ver os meus trabalhos. A palavra espalhou-se. Iam até casa pedir-me se podia fazer roupa para elas”, explica. Desse modo, e graças ao seu talento, consegue um número elevado de clientes.

(Imagem retirada da Internet)

Aos 27 anos, num baile de Natal, encanta-se com um belo moço brasileiro. O jovem contabilista estava no Alentejo a trabalho. Após 8 meses de namoro, oficializam a união, casando num belo dia de Setembro. “Fui virgem para o altar. Tive alguns namoricos, até estive prestes a casar aos 25 anos. Não aconteceu. Nessa noite do baile, encantei-me com a beleza e a candura do Acácio”, salienta. Casados, mudam-se para a vila de Castro Daire (Distrito de Viseu) para estarem próximos da família do cônjuge. No entanto, o marido toma a decisão de irem viver para Lisboa. “Tinha a ideia de que na capital iria ganhar mais. Lá fui. Mas ainda voltamos para Castro Daire e novamente para Lisboa. Foi assim umas idas e voltas de escolha para morarmos”, conta. O mais caricato é ter os seus dois filhos terem nascido em sítios diferentes: a menina em Castro Daire e o menino em Lisboa. Contudo, estas andanças acabam por saturar Francisca e terem consequência no seu trabalho. “Em Castro Daire, eu tinha 5 empregadas e clientes habituais. As pessoas conheciam-me bem e gostavam de mim. Tinha um atelier em casa. Ao ir repetidamente para Lisboa, aborreceu-me e deixei uns tempos de coser”, confessa com alguma tristeza. Mas as mudanças não acabam por aqui. A modista chega a viver uma temporada em Évora, Mira D’Aire e Porto. Emigrar ainda passa pela cabeça de Acácio. Francisca recusa, prefere ficar em Portugal com os filhos. “Ele ainda matutou nisso. Eu não quis e propus que ele fosse visitar a família, preparar uma vida lá e os miúdos e eu iríamos lá ter. Então ele falou que se não íamos todos, não iria ninguém”, remata. Finalmente, fixam-se na cidade de Viseu.

Leia na próxima quarta-feira como foi a sua adaptação nesta cidade e episódios relevantes que demonstram bem a sua força de viver…

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

OS 3 Fs DE UMA JOVEM BEIRÃ: FAMÍLIA, FRATERNIDADE E FORMAÇÃO (parte 2)

(Foto cedida por Ana Ribeiro)


No entanto, a figura materna continuava a ser tudo para Ana, repartindo esse sentimento com a irmã, 5 anos mais velha. A partida do pai tinha reforçado os laços entre as três. Após 6 anos de vida em trio, a matriarca toma uma dura resolução: juntar-se ao marido na Suiça. “A minha mãe confiava muito em nós. Explicou-nos que já éramos umas mulherzinhas que saberiam cuidar-se e que o lugar dela seria agora ao pé do meu pai”, relata a jovem com um aperto no coração. Assim foi. Ana ficou muito abalada, pois como filha mais nova, era a mais “mimalha”. A responsabilidade recaiu toda sobre a irmã, pois com 20 anos, ia ter que cuidar da casa, das contas e da irmã caçula. “Desde os meus 15 anos, a minha mana passou a ser indispensável na minha vida. Tornou-se a minha melhor amiga, a minha confidente e até uma espécie de mãe. Claro que a minha mãe terá sempre o lugar dela no meu coração. Mas também criei um elo de ligação fortíssimo com a minha irmã”, refere emocionada. A ida da mãe para a Suiça ainda causa algum impacto negativo nas notas escolares. Porém, Ana reergue-se dizendo a si própria que tem de provar que consegue. “No 10º ano, pensei que não ia desleixar-me. Ia tirar excelentes notas para a minha mãe ter orgulho e para entrar no curso de Fisioterapia. Consegui ter 18 e 20. Se calhasse não ter uma nota acima dos 15, eu chorava”, descreve.


Escola Secundária de Santa Comba Dão (Imagem retirada da Internet)

Contudo, a irmã acaba o curso universitário e opta por regressar a Santa Comba Dão, levando Ana com ela. Foi um período difícil. Deixou os amigos, o desporto, e consequentemente, as notas baixaram um pouco. “Voltei para um sítio pequeno no qual não reconhecia nada. Já não me identificava com aquele lugar como antes.” Apesar disso, na Secundária de Santa Comba Dão, os colegas recebem-na de braços abertos. Paralelamente, Ana apercebe-se que o nível de ensino numa escola pequena é tão duro quanto o de uma nas grandes cidades. As notas ressentem-se e o sonho do curso de Fisioterapia desvanece. Até hoje, a jovem não entende o que se passou. “Andava desanimada. Não conseguia memorizar como antes, ter aquela energia de antes. Se calhar, essa última mudança afectou-me mais do que eu pensava”. Desiludida, acaba por escolher um curso que, no fundo, pode até nem ter sido por acaso: Enfermagem Veterinária na cidade de Viseu. “Estava a ver as listas de cursos e seleccionei esse. Depois minha mãe lembrou-me que em pequena, eu só falava que queria trabalhar com animais e tratar deles”, recorda. Este ano, é finalista. As fases em que pensava desistir já lá vão e actualmente quer aprofundar os seus conhecimentos com formações, mestrados, e outros… “Quero adequar a minha paixão pela fisioterapia ao meu curso. Tive um dia de formação em fisioterapia veterinária. Fiquei fascinada. Quero saber mais sobre todas essas técnicas, inclusive a acupunctura em animais”, anuncia determinada. Com plena consciência da realidade socio-económica do País, Ana sabe que terá de lutar pelos seus ideais e ser versátil. “A minha vida é uma aventura. Não sei o que me vai acontecer no futuro, se terei emprego ou não. Mas vou fazer por isso e por ser muito feliz”, finaliza, esperançosa.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

OS 3 Fs DE UMA JOVEM BEIRÃ: FAMÍLIA, FRATERNIDADE E FORMAÇÃO (parte 1)

(Foto cedida por Ana Ribeiro)

Ana Ribeiro, 21 anos, finalista do curso de Enfermagem Veterinária é encantadora e bem-humorada. Desde pequena, guia-se segundo três grandes valores: a ligação à família, a dedicação aos estudos e a sede de novos conhecimentos.
Apesar de ter nascido em Coimbra, Ana passa os primeiros anos da infância na terra natal dos pais: Santa Comba Dão. Um dia, o pai decide emigrar para a Suiça no intuito de melhorar a vida familiar e antecipar financeiramente as futuras idas das filhas para a universidade. A sua irmã mais velha, a mãe e ela optam por mudar-se para Coimbra. Com apenas 9 anos, descobre a diferença entre morar numa aldeia e numa cidade. “Antigamente, em Santa Comba, andávamos de bicicleta na rua. Brincávamos em total liberdade. Não havia tantos carros. Na cidade, havia sempre mais perigos e uma intensa movimentação”, conta. A partida do pai é assim atenuada. Ana sente saudades, mas não pensa muito nisso. “Ir para Coimbra foi como uma aventura. Ia entrar para o 5º ano, para uma escola maior. Enquanto na aldeia, todos se conheciam. Ali não. Ia encontrar todos os dias pessoas diferentes. A ida do meu pai não me custou tanto. Sabia que ele regressaria rápido e com prendinhas. Era pequenina”, explica sorrindo com a recordação. Para apoiá-la na sua integração social e escolar, a mãe sugere uma visita ao psicólogo do estabelecimento de ensino. Mãe extremosa, vê nessa ideia uma maneira de a ajudar a abrir-se e a inserir-se no meio dos colegas. “Fiz a vontade à minha mãe e foi fantástico. Tanto, que no meu 7º ano, pedi para ir de novo ao psicólogo da escola. Adorava poder falar de tudo, sabendo que nada sairia de lá. Um pouco como num confessionário”, revela com um gargalhada sonora. E prossegue, “fazia também jogos de raciocínio e de memória. Foram momentos proveitosos que encarei como desafios”.
(Imagem retirada da Internet)
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Outra área que a motivou a evoluir enquanto pessoa, foi o Basquete. No 6º ano, Ana era alta e um pouco redondinha. Um dia, o treinador da equipe da escola perguntou-lhe se gostaria de experimentar. “Aceitei. Sabia que me ia custar imenso porque eu era muito sedentária e gulosa. Era sofá, estudos e televisão”, confessa. Esta modalidade desportiva permitiu-lhe expandir-se, chegando até a jogar nos Seniores e a ser federada. “Joguei dos 11 aos 16 anos. Acho que para um jovem, o desporto é excelente. Eu era introvertida, envergonhada e metida no meu canto. Graças ao Basquete, deixei de o ser. Fiz amigos e interagi. Até convivi com pessoas de diferentes países e culturas no ano em que participamos num torneio em França”. Hoje, é uma mulher comunicativa e extrovertida, aderindo a iniciativas que realçam essas facetas. “Nestas férias de Verão, associei-me ao projecto dos campos internacionais de trabalho, organizado pelo Instituto Português da Juventude. Lá, fizemos a Aldeia do Teatro e a Calçada Portuguesa, por exemplo. Lidei com jovens vindos da Coreia, da Turquia, ou seja, de diversos países europeus. E também de muitas regiões portuguesas”, menciona com enorme satisfação.

Na próxima quarta-feira, veremos a importância da família na vida de Ana e a sua realização profissional.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

JUNTOS, VAMOS AJUDAR ISABELA NO “CAMINHO PARA O SEU SONHO” (PARTE II)

(Isabela, depois do acidente - foto cedida por www.isabelahope.org)


Num belo 1º de Maio, Isabela estava feliz. Acabado o serviço na barbearia, galgou a sua mota e preparou-se para ir ter com amigas e namorado à praia. Tudo corria na perfeição até chegar ao cruzamento da Avenida das Índias com o Museu dos Coches. Dois semáforos: um verde, outro mais à frente vermelho (conforme testemunhas do carro). “Era e sou responsável e não tinha o hábito de infringir o sinal. Se calhar, no momento em que me apercebi que estava vermelho, já era tarde demais e batia no BMW”, relata a jovem. O acidente foi grave. O seu corpo amassou o depósito da sua mota, dando a ideia de que se teria encolhido para proteger-se do embate. “Fui projectada para o chão e dizem que balbuciei uma frase. Penso que foi «Por favor, não me tirem o capacete» e desmaiei”, descreve, recordando muito pouco da tragédia. Os ferimentos foram de um grau impressionante: dois braços e duas pernas fracturados, bacia partida e lesão na vértebra D12. Maio de 2006, Isabela fica paraplégica. “Estou numa cela sem grades. Era uma pessoa tão activa. Custa-me. Confesso que, por vezes, já tive momentos de desespero”, reconhece.



(Isabela, depois do acidente - foto cedida por www.isabelahope.org)


No entanto, existe uma luz ao fundo do túnel, uma esperança de voltar a andar: uma cirurgia no Centro Internacional de Restauração Neurológico (CIREN), em Cuba. A operação consiste em despressurizar a zona afectada da medula e retirar fragmentos de ossos lá alojados. O valor do tratamento ronda os 30.000 Euros e engloba avaliações, tratamentos por ciclos de 28 dias e intervenção cirúrgica. A sua partida depende da angariação de 13.000 Euros. Pois, 17.000 já foram conseguidos em diversas acções de solidariedade levadas a cabo por familiares, amigos, associações de dança, pesca, BTT, grupos de motards, oriundos de vários pontos do País… O caso da Isabela também teve destaque em 3 canais principais de televisão (RTP2, SIC e TVI). “Eu era Non Stop Girl e gostava muito da vida que tinha. Quero-a de volta. Sonho em voltar a andar, comprar a minha casa sozinha, ser mãe, ser feliz e fazer feliz”, exclama com fé. E deixa um apelo: “Por mais pequeno que seja o donativo, para mim é grande (…). Continuem a passar a mensagem, eu quero voltar a andar, a esperança não ma tirem. Perdi a felicidade em segundos, hoje sorrio só com os lábios, sem alma nem coração. Façam com que o vento volte a bater na minha cara, com que eu volte a ser feliz”.

Ajude: o seu Comentário é o seu Contributo!

Nota: o texto (parte 1 e 2) foi baseado em dados cedidos pela Isabela, pelo site http://www.isabelhope.org/ e pelo blog http://www.hopeisabela.blogs.sapo.pt/. As fotos foram cedidas pela própria, através do site www.isabelhope.org

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

JUNTOS, VAMOS AJUDAR ISABELA NO “CAMINHO PARA O SEU SONHO” (PARTE I)

(Isabela, antes do acidente - foto cedida por http://www.isabelhope.org/)

Hoje, iremos contar-lhes a história de vida de Isabela Marques. Não é beirã, nem vive na Beira. No entanto, precisa de todos nós, e neste Natal, decidimos ajudá-la. Desse modo, a Olho de Turista organiza a campanha de solidariedade “A Caminho do Meu Sonho”, de 10 a 30 de Dezembro. Quer contribuir de forma simbólica? Basta deixar o seu comentário aqui no Clube, nos dois textos relativos à Isabela e/ou nos textos da Blogagem de Dezembro do blog http://www.aldeiadaminhavida.blogspot.com/. A Olho de Turista doará 0,01€ por cada comentário. Para saber mais, espreite o referido blog (lá pode encontrar informação bancária para eventuais donativos individuais e links referentes a Isabela).

Era uma menina-mulher cheia de vida. Sabem, daquelas que o povo fala a brincar: “Ó rapariga, és movida a pilhas com tanta electricidade”. Desde cedo, Isabela aprendeu a viver de forma independente e responsável. Nasceu em Luanda (Angola) num belo dia de Junho de 1974. A cidade estava debaixo do clima da Guerra Colonial. Nada era previsível e tudo era inseguro. Única saída: Portugal. A mãe foge com ela para terras lusas e o pai, sargento paraquedista, regressará como ferido de guerra. Em Linhó (concelho de Sintra), a mãe de Isabela respira de alívio, conseguindo ter uma vida mais tranquila. A uma dada altura, a filha decide deixar de estudar e empenhar-se na sua meta individual: ser autónoma. Aos 19 anos, extremamente apaixonada, casa-se. Aos 24, divorcia-se. “Não admiti ser traída. Treze dias depois, peguei só nas minhas coisas pessoais e fui embora. Não queria partilhar algo que me fizera infeliz. Partir do zero era o meu novo propósito”, relata objectiva. Isabela é uma mulher de garra. Nesse episódio da sua vida, ela resolve alugar uma casa, trabalhar e estudar. “Arranjei coisas usadas para a casa, consegui um part-time e voltei a estudar à noite”, descreve com firmeza. E acrescenta, “também continuei na equipa de Futebol de 5 do Casal do Rato, na qual era guarda-redes”. O futebol foi uma paixão que durou 13 anos. A jovem ia a correr para os treinos, entre furos de aulas e até chegava a assistir a última ainda equipada.
Como não se considera nem “menina do papá, nem da mamã”, sempre trabalhou para obter o que queria. Algum tempo depois, com dinheiro poupado, aluga uma casa no Cacém e compra mobília e electrodomésticos. Após concluir o 12º ano, opta por tirar o curso técnico-profissional de Secretariado, no horário da noite, pois era trabalhador-estudante. Termina-o com muita satisfação pelo feito alcançado.


(Isabella, antes do acidente - foto cedida por www.isabelhope.org)

Apesar de abandonar o futebol, o desporto faz parte integrante do seu corpo e da sua mente. Isabela é uma amante verdadeira do exercício físico. Por amor, dedicava-lhe 3 horas, cerca de 3 a 4 vezes por semana. “No ginásio, fazia uma hora de cárdio e outra de musculação com o Luís. Praticava Step com a professora Cristina Rocha, Kickboxing com o Mestre Ramos, Bodycombat e Bodypump com a Paula Castro e o Fausto”, descreve emocionada. Além disso, ainda tinha tempo para a família, os amigos e um emprego full-time e outro em part-time. “Esses 4 anos foram os melhores da minha vida sozinha”, assegura. Entretanto, conhece M. com o qual namora e inicia uma vida em comum. À uma dada altura, o companheiro propõe-lhe a compra de uma casa. Isabela recusa por a mesma ter um preço acima das suas posses. Simultaneamente, arranja um part-time na secção de Material de Montanha da Decathlon, a fim de adquirir uma mota nova. Uma paixão que Isabel nutre há já muitos anos paralelamente com o Desporto. “Eu pretendia trocar de mota e M. queria oferecer-ma. Respondi-lhe que não. Queria merecê-la. Sempre lutei pelas coisas e consegui mais essa”, afirma com orgulho. Contudo, a relação com M. dura 3 anos, até ele se apaixonar por outra pessoa.
Sem mágoas, Isabela retorna à casa materna, com um novo objectivo em mente: comprar casa própria com os seus recursos. Para tal, soma um terceiro part-time: limpezas numa barbearia. Porém, o feriado de 1 de Maio de 2006, deita por terra o sonho e as ambições de Isabela.

Na próxima quarta, não perca o relato do acidente e a esperança no tratamento em Cuba…

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Nota: o texto (parte 1 e 2) foi baseado em dados cedidos pela Isabela, pelo site http://www.isabelhope.org/ e pelo blog http://www.hopeisabela.blogs.sapo.pt/. As fotos foram cedidas pela própria, através do site www.isabelhope.org

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PORTUGAL NASCEU NA BEIRA (parte 2)

Quadro: "A Criança na Sociedade"

Esse apelo artístico é tão forte que a leva a procurar uma galeria. De início, pintava em casa no pouco tempo que lhe restava, após longos dias de trabalho. “Aproveitava e inovava com a mistura de materiais. Encontrava e transformava vidro, panos, croché, fotografias e pintura. Conseguia dominar várias práticas”, exemplifica. Num momento, sente-se presa em casa, sem espaço. “Mais do que expor o meu trabalho, queria um lugar só meu, que fosse o meu mundo para me esquecer e escapar de tudo”, segreda. No Atelier do nº 10 da Avenida Eng. Engrácia Carrilho, Licínia não só mostra e vende as suas obras, como também expõe a de amigos e conhecidos, e troca quadros com outros artistas. A pintora tem igualmente um vasto leque de exposições individuais e colectivas em várias entidades camarárias, turísticas, hoteleiras e culturais. Eis algumas das localidades por onde já passou em Portugal: Coimbra, Figueira da Foz, Góis, Luso, Mangualde, Mortágua, Nelas, Porto, São João da Pesqueira, Sátão, Viseu e Vouzela. E no estrangeiro, em Espanha: Oroso (Corunha), Ciudad de Rodrigo (Salamanca) e Aranda del Duero (Burgos).
Contudo, descobrimos que a sede de conhecimento de Licínia pelas Artes vai muito mais além da Pintura. Frequentou não um, mas quatro cursos na Universidade Sénior. “Primeiro, estive em Direito para alargar os meus saberes em leis. Depois, cursei Inglês por ser uma língua fundamental actualmente. Em terceiro lugar, Literatura, um amor nutrido há muitos anos e que me valoriza a alma. E por fim, Agricultura/Jardinagem por ser uma área com a qual tenho uma ligação materna muito forte. E também por não ter a certeza de ter para sempre a possibilidade de continuar a exercer a minha profissão”, relata efusivamente. Desse modo, Licínia não ficou inactiva e fugiu ao Sedentarismo. Todos os cursos aprendidos mantêm-se vivos no seu corpo e na sua mente. “A agricultura e a pintura são dois dos passatempos que me exercitam muito. Diariamente, impregno-me deles. As minhas filhas puxam-me, comprando-me livros para eu explorar”, acrescenta. Talvez por essa união familiar e o seu intenso sentimento humano, se vislumbra em todas as suas obras, uma cara. Considerando já esse facto como uma característica sua. “Há sempre uma espécie de rosto, uma presença humano. É um pouco como se a minha pintura estivesse fortemente ligada a minha profissão”, comprova, apontando para o canto de um dos seus quadros.

(Quadro de Licínia Portugal - imagem tirada da Internet)

Mas a artista, mesmo com 74 anos bem vividos, tem sonhos. Um já realizou: foi admitida no Museu Serralves. “Já era membro da “ARA”, um grupo espanhol de pintores. Porém, a minha maior alegria foi receber o cartãozinho com o meu nome e a inscrição «artista nº 424» do Museu Serralves”. Agora restam-lhe dois desejos: o primeiro é ver crescer a sua neta de 6 anos e o segundo é expor no Museu Serralves.
Se quiser ver as pinturas de Licínia Portugal, dirija-se até ao Auditório Carlos Paredes, em Vila Nova de Paiva, até dia 30 de Novembro.
Se por coincidência, percorrer os Caminhos de Santiago, talvez tenha a oportunidade de ver o quadro com o qual a autora vai participar. A exposição “Caminhos de Santiago” vai estar patente em diversos locais chave de Portugal e Espanha.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PORTUGAL NASCEU NA BEIRA (parte 1)


Licínia Portugal é um nome sonante, fica na mente. É nome de País, terra e gente. Nascida em Cortegaça (Concelho de Mortágua), em 1935, com uma veia artística e outra humana, sempre viveu para os outros e é isso que a fez mover montanhas e pegar no pincel. Pois, Licínia é pintora, mas não só. Apesar da mãe se dedicar à agricultura, os avós e o pai eram industriais na área da madeira. Isso permitiu um grau de escolaridade mais elevado aos 3 filhos do casal (duas meninas e um rapaz). “Gostava muito de pintar, mas não se podia viver das Artes. Então, pensei em Medicina. Contudo, não conseguia lidar com a ideia de não conseguir salvar uma pessoa. Acabei por optar por Farmácia. Da pequena escola de Cortegaça, passeie por Mortágua, Viseu, Coimbra e acabei por me licenciar no Porto em 1959”, conta orgulhosa.
A partir daí, tornou-se uma mulher extremamente dedicada ao trabalho. Dia e noite, nunca parava. Primeiro, foi professora de Ciências Naturais e directora no “Colégio Português” (actual sede da Santa Casa da Misericórdia de Viseu). Na mesma altura, deu o nome a uma farmácia onde trabalhava algumas horas por dia. Esteve alguns tempos no Sanatório de Abraveses (que acabou por fechar) e 18 anos no Dispensário Antituberculoso. De seguida, ingressa para o Centro de Saúde da Sub-Região de Viseu, e finalmente, é escolhida para o Gabinete de Assuntos Farmacêuticos. Todos estes anos, Licínia esteve intensamente ligada ao ramo laboratorial e farmacêutico. Empenhou-se a 100% em análises, inspecções a farmácias e armazéns de medicamentos, entre outras funções. Ainda hoje, é técnica responsável de medicamentos farmacêuticos na AgroViseu. Paralelamente, acalentou o desejo de ter a sua própria farmácia. No entanto, não se concretizou. O marido veio a falecer aos 47 anos num acidente de viação e o sonho esfumou-se.

(Auto-Retrato)

Após residir alguns anos em Mortágua e Tondela, muda-se definitivamente para Viseu, cidade que ama de paixão. Já adulta, a jovem nunca deixou de desenhar, pintar, rabiscar… “Era muito boa aluna a desenho. E desde pequena, gostava de pintar e fazia pequenas coisas em aguarela. Em 1974, comecei mesmo a dar mais de mim à Pintura”, revela. Uma amiga ajudou-a no processo de aprendizagem de certas técnicas, na abordagem de materiais como o barro, etc. “Aos 39 anos, empenhei-me a sério. Sou autodidacta. Aconselharam-me a tirar fotografias, a aprofundar o meu dom, a grande sensibilidade artística que tinha. Assim fiz: comprei livros, fui a exposições…”, explica segura de si. E até aos familiares mais próximos, a artista incentivou o gosto pelas Artes. “Tenho 3 filhas e 6 netos. Tive a preocupação de incutir a todos o prazer das artes, da pintura, do desenho”, confessa com paixão.

Veremos na 2ª parte como a Licínia partilha com todos o seu amor pelas Artes...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

E CONSEGUI VIRÁ-LA. (2ª parte)

Segundo Anabela, a parte mais dura física e psicologicamente não aconteceu só na fase do conhecimento da doença, mas sobretudo após a mastectomia (remoção completa da mama). “Para uma jovem, ver-se sem um peito é uma mutilação muito grande. Só dá valor quem passa por isso. Digo muito que a nossa vida é como um livro. Rasguei uma página ao meio e consegui virá-la”, sublinha. A jovem de 34 anos apenas encarou uma vez a “ausência” de peito. Logo a seguir a operação, pediu à enfermeira se podia observar o seu estado. “Aguentei e vi. A partir dali, usei sempre o sutiã de prótese como forma de não pensar mais nisso. Só tirava no banho. Se me levantasse sem, era um dia desanimada e devastada porque voltava a realidade de não ter ali o meu peito”, explica. Quanto ao marido, Anabela preferiu não mostrar porque queria que “ele guardasse a imagem dela antes e não de coitadinha”.
Sete meses de espera e chega o momento aguardado: a reconstrução. Feita em 4 fases com intervalos de 2 meses: põe-se um expansor com soro fisiológico, retira-se para por silicone, reconstrução do mamilo e por fim da auréola. “Não vou esquecer esse dia. Fiquei radiante, sentindo-me mulher de novo. O médico até brincou comigo: «Vai ficar com um problema no pescoço porque só olha para baixo», exclama rindo com um sorriso juvenil. Para Anabela, a operação foi feita numa instituição particular, daí ter sido ainda mais dispendiosa. No entanto, não trocaria essa decisão por nada. “Não esperei pelo sistema público de saúde. Podia ter sido tarde demais para mim, caso eu tivesse acreditado nos primeiros médicos que me diziam estar tudo bem. A espera e a prevenção são incorrectas. A realidade devia ser estudada com maior preocupação e a reconstrução devia ser proposta de imediato. Não a quem faz radioterapia, porque aí a espera é de 5 anos obrigatórios, mas a todas as outras mulheres que aguardam e desesperam numa lista de espera ridícula”, avalia, revoltada.


Actualmente, Anabela encontra-se de perfeita saúde, tendo bimensalmente de ir as consultas de controlo. A sua vida está a salvo, todavia ficou a saber que não poderia ter mais filhos. O seu caso é hormonal e uma gravidez criaria fortes probabilidade de recidiva. “Prefiro ter só um com a mãe saudável do que dois sem mãe. Vivo o dia-a-dia feliz por ter conseguido pelo menos ter o meu Gonçalo”, exprime timidamente. Explicando melhor esta etapa, a jovem enfrenta agora uma possível menopausa precoce. O sistema hormonal de mulher madura e menstruada contém células muito activas e de multiplicação célere. No intuito de travar esse perigo, a solução tomada foi a “castração química” que consiste em injecções na barriga para secar os ovários. “Saberei como reagiu o meu organismo em Março. Obviamente, os contraceptivos ficaram fora de questão”, acrescenta.
Quando perguntamos a esta menina de 34 anos como via o futuro, respondeu da seguinte forma:
“Não me chateio com coisas insignificantes. Vejo a vida como sendo dois dias, ou como uma passagem que deve ser aproveitada. Viver bem com conforto, com amigos e alguma diversão. Os sonhos é o meu filho ter saúde, ter a mãe por muitos anos, ter pessoas amigas do lado dele e uma vida boa como eu tive e tenho (tirando este percalço)”, finaliza com um espírito de bon-vivant.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

RASGUEI UMA PÁGINA AO MEIO… (1ª parte)

No passado dia 30 de Outubro, comemorou-se o Dia Nacional de Prevenção contra o Cancro da Mama. O Clube das Mulheres Beirãs deixa aqui o seu contributo com o testemunho de uma jovem beirã.

Anabela Ferreira, 34 anos, natural de Vouzela, nunca pensou transformar-se numa guerreira e lutar contra um mal tão avassalador: o Cancro da Mama.
Desde nova, Anabela nunca foi uma mulher acomodada. A uma dada altura, a escola deixa de fazer sentido e sai com o 9º ano. Ficar em casa não era uma opção e decide trabalhar numa das fábricas têxteis da zona industrial. No entanto, com 18 anos, a jovem procura outros horizontes, empregando-se numa loja da vila. Até que conhece Paulo Ferreira, natural de Viseu, com quem começa a namorar. Um ano e meio depois, casam e abrem um restaurante em Vouzela. Cinco anos depois, dão por terminada essa experiência. “O nosso estabelecimento funcionava bem. Mas o meu marido estava habituado a vida citadina, e mesmo após meia década, não conseguiu adaptar-se a um meio pequeno. Optamos então por ir viver para Viseu”, conta Anabela. Aí, dá-se a verdadeira viragem. A vinda para a cidade traz-lhe uma nova oportunidade profissional. “Mudei a minha vida por completo. Uma amiga dentista incentivou-me a tirar o curso de Assistente de Medicina Dentária. Gostei da ideia e assim fiz. Estudei e empreguei-me logo”, revela orgulhosa por se sentir realizada à nível profissional e por actualmente trabalhar na clínica do Dr. Fausto. Após alguns anos e uma vida profissional estável, nasce o único filho do casal: Gonçalo, hoje com 9 anos. Tudo corria de feição e nada fazia prever o que viria pela frente na vida de uma mulher com 32 anos.
Uma manhã, ao fazer a apalpação manual debaixo do duche, descobre um caroço. “Eu notava qualquer coisa e achava que não era nada. Mas por via das dúvidas, fui ao médico, fiz exames e análises”. Em Viseu, os médicos asseguram-lhe que ela está bem e que as suas preocupações são infundadas. “Afirmavam que eu era muito nova e que como não tinha casos na família, que seria tudo coisas da minha cabeça”, realça. Contudo, a ideia vai martelando a sua mente e dirige-se a um médico particular, onde acaba por tirar os nódulos. E qual não é o seu espanto, quando recebe os resultados! Carcinomas evasivos com altos e baixos! “A partir daí, fui à luta. Em Viseu, mudaram logo de discurso, já me queriam fazer tudo e mais alguma coisa. Depois de 6 meses a iludirem-me, recusei. Fui à Clínica dos Montes Claros, à Coimbra, onde fui cuidadosamente atendida. O médico viveu intensamente o meu problema. Foi tão real, ouvi um sermão, pois não devia sequer ter mexido nos nódulos e ainda me disse que não era a minha saúde que estava em perigo, mas a minha vida”, relata.




Cancro da Mama
(Imagem retirada da Internet)

Assustada e consciencializada, a jovem segue em frente para: 4 sessões de quimioterapia, uma operação – mastectomia radical do peito esquerdo e mais 4 sessões. A quimioterapia foi um processo difícil no qual contou com o apoio constante do marido e dos amigos. E como reagiu o filho? “Normalmente. Sempre lhe contei a verdade e expliquei-lhe cada passo. Após a primeira sessão de quimio, senti o cabelo a cair. Fazia-me mal ver o cabelo aos montes na almofada, então quis rapá-lo. Nesse dia, antes mesmo de ir para Coimbra, falei com o Gonçalo para ele não se assustar quando me visse chegar a casa. Ele sabia que uma das consequências do tratamento era a queda de cabelo. Quando entrei em casa, estava com uma peruca, ansiosa pela sua reacção. Ele viu-me com e sem e fiquei tão feliz quando gritou «Mãe, estás tão gira»”, descreve emocionada. A partir desse momento, deixa os preconceitos de lado e passa a andar ao “natural” dentro de casa e no seio dos amigos. No ambiente profissional, usa peruca por achar ser a atitude mais correcta. “Como nunca deixei de trabalhar, achei que no consultório, iria ser constantemente observada. Com a peruca de cabelos naturais, isso não iria acontecer e assim fiz”.
Anabela nunca baixou os braços, prova disso é ter mantido as suas rotinas intactas, com energia e boa disposição. “Se antes de saber da doença, já gostava de mim. Depois, passei a gostar ainda mais. Até ia ao cabeleireiro, só para lavar a peruca. Mimava-me com esses momentos pessoais, tal como antes. Fazia-me bem psicologicamente”, adianta. Claro que como qualquer mulher numa situação destas, tinha alturas de tristeza, mas não dramatizava e lembrava-se de que “se tivesse bem, todos estariam; se chorasse, todos chorariam”.
Entretanto, no fim da operação e de todos os tratamentos, vem a fase da recuperação…

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PARTINDO DO ZERO (Parte 2)

Líbia (Imagem retirada da Internet)

Após alguns contactos, Horácio Sousa embarca para a Líbia com um contrato de 6 meses, como servente. Isabel enfrenta de novo as queixas da mãe por ter deixado ir o marido para fora do País. Alheia às querelas, a jovem de 20 anos fica em Portugal a tomar conta da casa e do filho de um ano. O marido passa 6 anos na Líbia, vindo ao seu país de 6 em 6 meses, durante apenas 15 dias. Lá, é promovido para manobrador de máquinas e ganha trinta contos por mês. O casal junta assim um pequeno pé-de-meia, compra um terreno e constroem uma casa. “É a casa que temos actualmente em Penela. No início, fomos viver para lá só com as paredes e a placa. Ele ia trabalhar e eu juntava o dinheiro. Quando ele vinha, íamos comprar material para a construção da casa”, conta com o sentimento de sonho realizado. Entretanto, adquire um pequeno terreno para cultivo da própria horta e o cônjuge volta uma temporada para Portugal. Nessa altura, ambos tiram a carta de condução. O espírito activo de Horácio leva-o a viajar de novo para Cabo Verde como cooperante (um ano e meio) e para a Argélia (4 meses). “Eu ficava sempre e criava o meu menino. Aí, graças a Deus, a minha casa já estava recheada de coisas da minha quinta”, exclama. Quando o marido regressa, pensava ela de vez, decidem arranjar uma carrinha para a venda ambulante de fruta. No entanto, a ideia empreendedora não resulta.



Suiça francesa
(Foto retirada da Internet)



Nessa altura, um sobrinho, emigrante na Suiça passava férias em Portugal. Horácio antevê uma oportunidade e pede ao familiar que o leve. Estávamos em 1988. Não querendo aguentar mais essas longas ausências, Isabel ruma também para a Suiça. “Fui ter com ele sem saber falar francês e sem conhecer a realidade daquele país. Já estávamos saturados de estarmos distantes um do outro e precisávamos de estarmos juntos. O mais difícil foi deixar o meu filho, já com 12 anos, com a minha mãe. Não o pude levar por dois motivos: não queria que ele saísse assim a meio do ano escolar e as leis da Suiça eram rígidas – ele não podia entrar na escola sem papéis e o meu marido só tinha contrato de 9 meses renováveis”, explica. Isabel ficou com o coração apertado, apesar de saber que o filho aceitava bem a situação, pois gostava muito dos avós e distraia-se na escola com os amigos. Na Suiça, o marido vai juntando os contratos de trabalho de 9 meses, até perfazer um total de 36 meses e obter os tão desejados documentos de residência, trabalho e afins. Por seu turno, Isabel aprende francês lendo jornais, dicionários e vendo televisão. Ao mesmo tempo, trabalha ilegalmente na cozinha de uma casa de repouso. A situação dura 2 anos até ser acusada por anónimos. Felizmente, algum tempo depois, consegue um contrato como camareira, primeiro num hotel longe de casa, depois num mais perto. Graças à situação regularizada do marido, Isabel volta para o primeiro local de trabalho: o lar de idosos, nos afazeres da cozinha, da sala de jantar e dos quartos. Nesse período, tentam que o filho com 17 anos venha viver com eles. Porém, o adolescente não se adapta, pois tem saudades da namorada, dos amigos, dos avós e da terra natal. Os pais, mesmo inconformados, deixam-no regressar e ficam felizes ao vê-lo tirar o curso de contabilista e ingressar numa empresa. Mais tarde, envereda para a GNR onde permanece actualmente. Adulto, casa-se e tem uma menina. Na Suiça, o pai sofre um acidente de trabalho sério. Recuperado, Horácio pensa em voltar de vez para Portugal para estar junto do filho, da nora e da neta. “Adorava a Suiça, mas o meu marido convenceu-me a regressar ao nosso país para estarmos com a nossa linda netinha. E assim foi, mas com a condição de termos um apartamento na cidade.”, confidencia. O casal escolhe um apartamento em Viseu por ser perto de Penela, ter a privacidade citadina e comparar-se um pouco ao tipo de vida suíço. Na cidade de Viriato, nem tudo é fácil. O marido arranja prontamente emprego na construção civil. No entanto, fica desiludido com as condições salariais e o estilo de vida e emigra para França onde se encontra actualmente. Passados dois anos, Isabel emprega-se finalmente como camareira em hotéis da Visabeira. Terminado o contrato de um ano, fica desempregada. “A vida aqui é dura porque não sentimos qualquer retorno na qualidade de vida e de trabalho. Por isso, o meu marido emigrou e eu se tivesse uma oportunidade, ia também”. Todavia, preferiu ficar.


Penela da Beira
(Foto retirada da Internet)



Sempre que pode, conduz até a aldeia de Penela e até São João da Pesqueira para estar com o filho e a neta. “Gosto de estar na minha casa da aldeia. Sinto-me livre e sossegada, cultivo a minha horta e trato do meu jardim. Só não vivo lá permanentemente porque é muito fria no Inverno e deserta. Os idosos conversam sobre o passado e a melancolia instala-se. No Verão, é muito mais bonita e animada, com festas, pessoas e convívio”, profere com alegria. No final, a pergunta da praxe sobre se era uma mulher feliz? A penelense responde que não tem sonhos, nem ambições, apenas quer viver “tranquila e com saúde e ver o filho feliz e a neta crescer”. E acrescenta, “considero-me uma mulher feliz porque lutei sempre. Apesar de nos termos casado sem nada e trabalhado muito, conseguimos as coisas com que sonhávamos e temos uma vida boa dentro das nossas possibilidades”.


Primeira vela da colecção, comprada em Veneza.

Antes de concluirmos a história de mais uma grande mulher beirã, quer saber uma curiosidade sobre a Isabel? Ela tem uma enorme colecção de velas! Já lhe perdeu a conta. “Tudo começou numa viagem à Veneza. Vi confeccionar tantas velas lindas, comprei uma e fiquei fã. A partir daí, comecei a comprar de todas as cores e feitios”, remata, soltando uma gargalhada sonora e mostrando divertida o armário das ditas.

Armário das Velas

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PARTINDO DO ZERO (Parte 1)





Num belo dia de Agosto de 1949, em Penela da Beira, freguesia do concelho de Penedono, nasce uma linda menina. Dão-lhe o nome de Maria Isabel. Criança, vive uma infância normal com os restantes 2 irmãos mais velhos e a irmã mais nova. Na aldeia, brincam com os primos e vizinhos em liberdade e união total com o campo. Isabel estuda até à 4ª classe. Passado um ano, com a chegada da obrigatoriedade da 6ª classe, ela volta à escola para completar a escolaridade. “Não estudei mais porque os meus pais eram agricultores e com 4 filhos, não tínhamos possibilidades para tal. Um dos meus irmãos até teve pena porque ganhou um prémio na escola”, comenta. Aos 12 anos, fica então em casa a tratar das lides domésticas, do almoço e da irmã de 3 anos. “Descascava as batatas e fazia o comer no lume nas antigas panelas de ferro. À tarde, ia com a minha mãe regar e sachar. Chegávamos às vezes às 22horas a casa”, recorda. Os pais também tinham bois, porcos, burros e galinhas. A importância dos animais era grande. Todos os Invernos, o pai de Isabel comprava uma “parelha de bezerros novinhos” para criar e nos Verões, “amansava-os”.
Nesse mesmo ano, começa a ir para as Vindimas do Douro e a apanha da azeitona. Pouco tempo depois, toma conhecimento de uma família abastada, em casa de quem começa a “servir”. “Foi lá que aprendi tudo o que sou hoje: as tarefas correctas de casa, de cozinha e de costura”, revela. No entanto, esse novo trabalho coincide com a altura em que começa a gostar de dançar nos bailes. “A minha mãe começou a implicar comigo por causa disso. Como castigo, tirou-me da casa onde trabalhava, porque sabia que eu adorava lá estar”. A partir daí, os atritos com a progenitora disparam. A mãe obriga-a a ir aprender costura e trabalhar para uma modista da terra. No Inverno, continua nas Vindimas e nas apanhas…
Até que em meados de Janeiro, enquanto apanhava a azeitona na Quinta de Santa Cruz, perto de Casais do Douro (Pinhão) conhece o marido. Era filho da caseira da quinta. “Quando o vi, lembrei-me que no baile da passagem de Ano, tinha dançado com ele a noite inteira. Era um óptimo dançarino. Mas não sabia o nome dele, nem nada. O mais engraçado é que morava a 3kms de mim, em Póvoa de Penela”, rememora com um sorriso maroto. Inicia-se o namoro e as zangas com a mãe voltam. “A «ranchada», denominação dado ao grupo de pessoas que iam trabalhar para a apanha, foi contar o meu namoro à minha mãe. Ela já andava furiosa por eu sair muito e andar nos bailaricos. Nesses dias, bateu-me tanto”, fala com ar triste. A mãe também tinha em vista outro rapaz para a filha, daí não concordar com a sua escolha. Sendo muito frontal e directa, Isabel já tinha feito questão de dizer ao rapaz elegido pela mãe que não o queria. “E também respondi à minha mãe: Se você gosta dele, case com ele. E claro, levei outra carga de porrada”, exclama com uma careta. Porém, cheia de carácter, conquista dois objectivos: o aval da família e o casamento. “Nesses tempos, se uma moça não casasse com o rapaz com quem tinha perdido a virgindade, era posta de lado e mal vista. Por isso, com 16 anos, consegui casar com o meu Horácio”, exclama cheia de orgulho, nessa união que já conta com 34 anos.


(Imagem retirada da Internet)

Jovens encetam uma vida do nada. Nos primeiros dois meses de vida em comum, ficam a morar em casa dos pais de Isabel. O marido ajuda no trabalho agrícola junto dos sogros e ela no trabalho caseiro. Contudo, a convivência não é pacífica e as desavenças entre mãe e filha permanecem. Consequência: optam por alugar uma casa. “Como nos faltava tudo, arrendamos uma casa velha onde se viam os ratos com as caudas penduradas. Durante alguns anos, arranjamos o indispensável, mas foi duro e refilávamos um com o outro. Depois ele foi trabalhar como jornaleiro para o campo. Eu engravidei e fiquei em casa”, relata. Até que o cônjuge, muito desenrascado, equaciona a hipótese de emigrar sozinho em busca de uma vida melhor para a mulher e o filho…

Veremos o que aconteceu na próxima 4ª feira.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A FORTE LIGAÇÃO MATERNA DE UMA VOUZELENSE



Era uma vez uma menina que brincava sozinha com uma boneca de trapos. Era filha única, de pai incógnito. A mãe tinha de ir trabalhar e não tinha com quem a deixar. Falamos de Lucília Pereira. Lucília é uma vouzelense de gema e mora na freguesia de Queirã, terra materna. “A minha mãe ia vender sardinha e eu ficava em casa, a brincar com uma boneca de farrapos. Sentia-me um pouco solitária”, conta. Aos 7 anos, vê a mãe casar, tendo assim um padrasto. Aos poucos, afluem crianças à aldeia e Lucília já tem companhia nos jogos tradicionais. “Jogávamos à macaca, às escondidas, à agacha galinha…”, exemplifica. Após terminar a quarta classe, sai da escola com 11 anos. Na adolescência, ajuda na lide da casa, vai aos montes com as vacas e apanha comida para os animais. No cimo do monte, sempre que ouvia o som do bailarico, ia com as amigas dar passinhos de dança. Por isso, considera a sua infância e os tempos de juventude “alegres e livres no campo”.

E foi um pouco devido ao gosto pela dança que conheceu o marido. “Ele estava na tropa. Quando vinha a casa, espreitava-me nos bailes. Começou a escrever-me, mas eu não lhe dava troco”, revela. Até que se inscreve como sua madrinha de guerra e aí iniciam uma troca de aerogramas. Apesar de não pensar em casar, Lucília casa aos 18 anos. Dois factos curiosos: o casamento é feito por procuração e na cerimónia, o noivo não está presente. “O meu marido tinha de acabar a tropa, então não podia vir. Fiz uma festa na mesma que correu de forma normal”, relata. No entanto, o soldado acaba o tempo de serviço e emprega-se em Angola. Lucília decide ir viver para lá. “Viajei 10 dias sozinha no barco, sem medo e com muitas perspectivas. Como tinha lá familiares meus, fui-me adaptando. Lembro-me de estar sentada à beira-rio e de recordar as aulas de geografia sobre esse mesmo país e os seus rios”, evoca.

No entanto, engravida, e na mesma altura, em Portugal, a mãe adoece, padecendo do estômago. “Tive de voltar. Com o meu filho de um mês nos braços, regressei para cuidar da minha mãe. O meu marido chegaria pouco tempo depois”. De Dezembro a Fevereiro, a jovem zela pela saúde da progenitora. Contudo, esta acaba por falecer com a jovem idade de 44 anos. “A perda da minha mãe foi o pior momento da minha vida. Marcou-me para sempre porque sinto muito a sua falta. O meu padrasto não era compreensível e tinha o vício da bebida. A minha avó materna, que viveu mais tempo que a minha mãe, era uma pessoa fria e distante. Daí, a minha mãe e eu sermos tão ligadas uma à outra. Por isso, quis estar ao pé dela e dar-lhe o meu apoio e carinho”, expressa com o sentimento de tristeza profunda estampada no rosto.

Depois deste trágico episódio, Lucília e o marido pensam em voltar para Angola. O 25 de Abril impede-os. Lisboa torna-se uma hipótese de trabalho. Com um curso de dactilografia tirado em Viseu, prepara-se para rumar até a capital. Porém, o filho contrai uma bronquite asmática e os planos modificam-se uma vez mais. “Como não tinha ninguém a quem deixar o meu pequenino, optei por ficar com um café na terra do meu marido. Mas não aguentei ver as pessoas com fome, sem conseguirem pagar…”, e acrescenta, “depois, também engravidei da minha filha. Aí, decidi permanecer em Queirã e cuidar dos meus filhos”. A vouzelense investe então todo o seu tempo na educação e formação moral dos filhos, nas tarefas domésticas e na criação de leitões. Enquanto isso, o marido torna-se de novo emigrante: passando 10 meses em Israel na construção civil e 12 anos na Suiça onde a família o visita nas férias. Em Portugal, trabalhava sempre na área dos transportes. Até quando regressa definitivamente, arranja emprego numa firma de camionagem de Oliveira do Hospital, onde se encontra actualmente. Durante a semana, Lucília fica assim sozinha em casa, mas não deixa por isso de se manter ocupada. “Com o meu cão e a minha gata, vou tratando dos animais e da horta. Quando tenho possibilidade, vou até à Madeira visitar a minha filha”.

As palavras da beirã reflectem simplicidade e tranquilidade, aliadas a uma grande nobreza de espírito. “As alegrias da minha vida foram os meus filhos e a dedicação à minha família. De resto, sou feliz com a minha vida pacata. Quando me canso da calma do campo, guio até a cidade. Vou ao jardim, às lojas e vejo as montras… Estou bem assim sem grandes ambições, pois como costumo dizer «rico não é quem tem muito, é aquele a quem não falta nada»” finaliza, acarinhando um dos seus queridos coelhos.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

UMA LISBOETA CONQUISTADA POR UM IDANHENSE

Hum… Quem será? A alfacinha de gema chama-se Zélia Cordeiro e conta hoje com 70 anos bem vividos. Nasceu e cresceu em Santa Maria dos Olivais. Em Lisboa, conhece o marido, um idanhense genuíno. Apaixonada, aos 17 anos, casa-se. Três filhos e três netos resultam dessa harmoniosa união.

Zélia Cordeiro
Foto da Olho de Turista

Um belo dia, há aproximadamente 30 anos, dão um passeio até a terra natal do marido: Idanha-a-Nova. “Nós pensávamos que ele não tinha lá família nenhuma. Mas afinal, descobrimos um primo e fomos lá a matança do porco”, conta Zélia. E foi amor à primeira vista. “Adorei Idanha. Apesar de não ter qualquer ligação, houve qualquer coisa na altura que me chamou”, segreda. Nesse dia, iniciou-se o namoro com a bela vila da Beira Interior Sul. As férias eram passadas num bungalow no parque de campismo. Anos depois, investem numa pequena roulote, e de seguida, numa grande.
E de repente surge uma oportunidade. Em 2003, Zélia, que já tinha aderido a Feira Raiana, onde expunha Artes Decorativas, desloca-se até Idanha para novamente participar. No carro, ouve na rádio Monsanto que “uma residência tinha sido construída para os estudantes, fazendo com que um bairro de vivendas estudantis fosse leiloado por carta fechada”. No dia seguinte, a lisboeta já estava a ver as casas com um representante da Câmara. “Nós nem sequer pensávamos em ter casa porque tínhamos a roulote. Mas, ao visitar a casa n.º 60, desço as escadas para o rés-do-chão, e no último grau, vejo a Nossa Senhora do Almortão no chão”, relata emocionada. O casal decide então licitar a casa n.º 60 e a n.º 62. “Só havia duas cartas fechadas para a 60. Tive sorte. Calhou-me. Acho que foi um milagre”, exclama sincera. Zélia sempre foi devota, porém a leucemia que atinge o filho mais velho aos 40 anos, fá-la afeiçoar -se ainda mais à Nossa Senhora do Almortão. “O meu menino salvou-se. Por isso, já era e sempre serei grata a esta Santa”, afirma. E acrescenta, “Do coração, sou beirã. Fiquei presa à terra com a sua beleza e a sua Santa”.

Zélia Cordeiro
Foto da Olho de Turista

Por isso, apesar de morar em Arruda dos Vinhos, volta e meia, está em Idanha. Este facto deve-se também a outra paixão: as Artes Decorativas. Dava aulas em Idanha, Monsanto, São Miguel D’Acha… “Gosto de ensinar e ver que prosseguem o que aprenderam. Sabe, às vezes, no Verão e no Inverno, vinha sozinha na roulote para dar aulas de pintura. Lembro-me das noites de trovoada e temporal e eu, sozinha na roulote, a única no parque de campismo”, murmura. O seu gosto pelos trabalhos manuais saiu reforçado após ter estudado numa academia sénior. “Agarrei-me a isso e ao ensino que me realiza muito à nível pessoal. Por isso, continuo a dar aulas e a motivar pessoas idosas, sozinhas ou viúvas a ocuparem bem o tempo”. As suas obras são muito conhecidas na região e tem pedidos vindos de todo o lado, seja para aulas, seja para trabalhos. A artista confia-nos dois exemplos marcantes: “tive várias encomendas do padre de Linhares da Serra, sobretudo vitrais para a igreja. Realizei também pedidos da Junta de Freguesia de Salvaterra do Extremo: um painel com o monumento em honra do Combatente do Ultramar e dois Adufes pintados à mão – um com o Brasão e o outro com o emblema da Junta”. Rindo-se, Zélia confidencia-nos, “o meu marido fez uma reprodução gráfica do Castelo de Idanha-a-Nova e desafiou-me a fazer um painel em azulejos para a comemoração dos 800 anos. Assim fiz”.
No entanto, é diagnosticada a doença de Parkinson a João Cordeiro. Na mesma altura, Zélia enfrenta uma grande anemia. Contudo, não desanima e começa a pensar no futuro. “Não queríamos depender dos nossos filhos nem na velhice, nem na doença. Então, começamos a pesquisar condomínios que tivessem todas as condições”, explica. A escolha recai no condomínio “Dom Dinis”, localizado na região Oeste, na cidade de Caldas da Rainha. “Lá teremos tudo, apartamento privado, farmácia, mercearia, apoio médico e social…”, descreve Zélia. A sorte bate-lhe novamente a porta: duas meninas esperavam-na em Idanha, solicitando-lhe dois quartos. “São tão queridas e boas moças que aceitei alugar-lhes os quartos. É positivo porque nos irá ajudar no pagamento do tão prezado apartamento”. “Sou uma mulher lutadora que conseguiu realizar os seus sonhos. Somos assim um casal muito feliz. O meu marido, mesmo com esta dura doença, acaba de publicar um livro de poemas dedicados à esta maravilhosa terra”, anuncia orgulhosa, com um sorriso de orelha à orelha.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

“A FELICIDADE NÃO É UMA META, É UM PERCURSO” (2ª parte)



Duas crianças a passear
Foto tirada da Internet

Maria, a mais nova, é o catalisador de energia, não deixando tempos mortos à mãe. A família dá permanentemente o seu contributo em todos os aspectos. “Ajudam-me nas questões do carro. Nas férias, vamos todos juntos. É um apoio incondicional. Também é notório que somos poucos, mas enchemos uma casa”, realça cheia de ternura. E remata com um episódio engraçado. “Em Julho, percorri 1200km com as minhas filhas. Íamos de férias. Perdemo-nos e tive de aprender a pôr gasolina pela primeira vez. Só dei conta que o depósito estava cheio quando o combustível começou a cair aos meus pés”, refere com uma risada.

É pelas filhas que tudo faz. No entanto, existem sempre situações penosas, difíceis de evitar. “Quando estamos numa reunião da escola ou numa festa de anos e uma criança grita «papá, papá», eu vejo o rosto triste das minhas meninas por não poderem fazer o mesmo. É quando me dói mais”. Entretanto, na escola, a primogénita aproximou-se de um menino cujo pai faleceu num acidente de viação. “A Marta é muito unida a esse menino, talvez por terem esse triste ponto em comum. São o suporte um do outro”. A amizade e a dádiva ao outro são dois dos valores transmitidos por Dina. Os bens materiais e o estatuto não são os mais importantes. “Quero que as minhas filhas sejam muito felizes, sejam elas varredouras de rua ou ministras, tenham um carro topo de gama ou um pequeno. Procurem sempre a felicidade”.

Escola Superior de Educação de Viseu
Foto tirada da Internet

Outra mudança é o ingresso para um curso superior. Um amigo, professor na Escola Superior de Educação de Viseu, incentiva-a a inscrever-se no curso de Publicidade e Relações Públicas. “Ele liga-me dizendo que estavam abertas inscrições para um curso que era a minha cara. Era para mais de 23 anos e eu tinha que me matricular. E foi o que fiz”. A experiência tem sido proveitosa a 100%. Dina tem interagido com pessoas de todas as idades e trocado vivências com adultos e “miúdos”. “No meu 1º ano, a nota mais baixa que tive foi 12. Tento sempre ir as aulas todas. Um aspecto divertido é que nós, os trabalhadores-estudantes e os mais “velhos”, somos um pouco o contra-peso dos mais novos. Há um convívio saudável”. Lutadora e decidida, vive a vida ao segundo. O seu desejo é acabar o curso com tranquilidade, meditando um ano de cada vez. “Claro que já fiz noitadas para fazer trabalhos, mas nunca me ocorreu desistir. Já fiz também trabalhos de grupo e participei em alguns jantares de turma. Não muitos porque em primeiro lugar, estão as minhas filhas”, esclarece, demonstrando o amor profundo que sente por elas.


Imagem tirada da Internet

E perspectivas futuras para si mesma? De momento, Maria Aldina não sente a necessidade de ter outra pessoa na sua vida, nem cogita muito nisso. Pois, um dia, se tal vier a acontecer, sabe que tudo passará pela aprovação das filhas e também pelo inevitável processo de comparação. A sua alegria pessoal centra-se sobretudo na sua realização profissional. Dina tem o curso de Educação Social, tirado em Lamego e trabalha actualmente na Loja do Cidadão de Viseu, na área de atendimento ao público. Gosta do que faz, mas espera tirar frutos do curso que está a tirar actualmente. “Adoro o contacto com as pessoas. E embora não faça planos, espero que o curso de Publicidade e Relações Públicas me traga novos horizontes e novas oportunidades”, conclui, olhando em frente, para o destino e sorrindo carinhosamente.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

“A FELICIDADE NÃO É UMA META, É UM PERCURSO” (1ª parte)

Quem, depois de casar, alguma vez pensa, ver o seu cônjuge partir primeiro para o descanso eterno? As estatísticas dizem-nos que as mulheres têm uma esperança de vida maior do que os homens. E muitas vezes, são elas que têm a amarga tarefa de acompanhar os amados até a sua última morada. Foi o que aconteceu a Maria Aldina Correia, uma viseense de 39 anos, cujo lema de vida é o nosso bonito título.


Viseu
Foto tirada da Internet

Maria Aldina Correia, mais conhecida por “Dina” nasceu na freguesia de Lordosa (Viseu) e é a mais nova de 4 irmãos. Desde os 5 anos, vive em Moure de Madalena, outra freguesia viseense. “Ainda moro em casa dos meus pais. Casada, continuei a viver lá e não me arrependo nada. A casa sendo enorme, sempre tive o meu espaço e me senti bem. Até o meu marido gostava e não mostrava interesse em sair”, relata Dina. Depois de um namoro de 4 anos, casa aos 26 na freguesia do Campo com o marido, natural de Lamego. “Foi um casamento muito feliz, no qual sempre fiz o que achava certo e gozamos a vida em tudo, até nas mais pequenas coisas. Ele era guarda-prisional, mas sempre que tinha folga ao fim-de-semana, passeávamos. Os tempos eram todos preenchidos”, conta com um brilho nos olhos. Passados dois anos, nasce a Marta – hoje com 10 anos. “Era uma criança difícil para comer, chorava muito… Então, estava um pouco de pé atrás em relação a ter outro”, revela-nos. Mas o marido insiste e ela cede. Após um aborto aos 3 meses, tenta de novo e chega a Maria. “A Maria veio encher por completo a minha vida. Fiquei feliz por ter seguido a vontade do meu marido. E aconselho a toda a gente: quem tem um filho, é muito bom. Mas quem tem dois é bem melhor”, e esclarece rindo, “dá outro sentido de vida, alegrias, vivências. E há as diferenças entre elas que adoro: a mais velha é reservada, calma, bem comportada. A Maria é travessa, traquina.

Duas crianças a brincar
Foto tirada da Internet

Entretanto, essa plena felicidade desvanece quando é detectado um carcinoma na língua ao marido de Dina. Pouco tempo depois, da mais pequena festejar um ano de idade, o marido é operado. A recuperação é excelente e não necessita dos habituais tratamentos como a quimioterapia. Mensalmente, comparecem as consultas mensais de rotina. Tudo estava a desenrolar-se positivamente. Contudo, em Agosto, é notada uma alteração nos gânglios cervicais. No mês seguinte, nova cirurgia. “Ai, foi sujeito aos tratamentos pesados – quimioterapia, radioterapia… Foi outro susto. A partir daí, a saúde dele deteriora-se. Em Coimbra, já não havia soluções e dão-nos a indicação de uma clínica em Navarra (Pamplona). Em Espanha, Dina agradece o aspecto humano, a esperança e o bem-estar que lhes é transmitido. Porém, o marido não resiste a agressividade dos tratamentos e acaba por falecer, em Coimbra, devido a uma hemorragia interna grave. “Do princípio ao fim, acompanhei e apoiei-o. Era duro ver definhar o homenzarrão que ele era. No dia da sua morte, senti uma paz interior muito grande porque o sofrimento dele tinha acabado”, narra com as lágrimas nos olhos. Com o contínuo apoio familiar, Dina enfrenta a situação frontalmente. “Não senti necessidade do luto em si porque ele está sempre ao meu lado. A sua ânsia de viver deu-me algo, não sei se é força ou fé. Por isso, fiz naturalmente as leituras no funeral em sua homenagem. Expliquei à Marta o que se tinha passado com o pai e a doença dele. Para mim, ele continua presente nos pequenos gestos do quotidiano”, conta. E exemplifica: “eu estava a cortar as unhas da Marta e a pensar que eram iguais às do pai e ela, de repente, exclama: «Mamã, as minhas mãos são iguais às do papá». Não é uma transmissão de pensamentos por acaso”. A partir desse fatídico momento, a vida de Dina muda...
Descobriremos como na próxima quarta...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pontos e Linhas de Idanha



Já foi à Feira Raiana em Idanha-a-Nova? Caso nunca tenha ido, não se preocupe, tem tempo de preencher essa lacuna. Desta vez, o Clube das Mulheres Beirãs apresenta-lhe Maria José da Silva, uma idanhense genuína. Qual é a ligação com a Feira? Descubra lendo a nossa entrevista de hoje.



Maria José da Silva é 100% idanhense. Nasceu em Idanha-a-Nova há 64 anos (quase 65, murmura rindo), aqui cresceu, casou e “vai vivendo”.

A sua infância foi igual a tantas outras famílias pobres. “Vivia no campo. Ia de muito longe a pé para a escola. E como era filha única, ainda fiz até a 4ª classe. Sai e fui trabalhar”, conta. A vida no campo leva-a primeiro a lavoura agrícola. Entretanto, sendo uma mulher trabalhadora para quem “todo o tipo de trabalho servia”, Maria José arranja emprego na Cooperativa de Queijo da Beira Baixa. Contudo, a vida obriga-a a seguir outro rumo. “O queijo era muito bom. O trabalho era muito pesado, mas fazia-se. Quando comecei a ter problemas de saúde – várias operações ao fígado e outras doenças, tive de sair”, conta. O último emprego (onde ainda se encontra actualmente) é num lar de idosos de Idanha. “Gosto muito de estar lá. As pessoas de idade são muito queridas e sensíveis. Têm histórias de vida muito interessantes. Pena nem sempre ter o tempo que gostava para as ouvir a todas”, expressa com um sorriso tímido.

E a vida familiar? Ainda na mocidade, aos 16 anos, começa a namorar. Sete anos depois, casa-se. E como não podia deixar de ser: o marido é também um fiel idanhense. “Conheci o meu marido aqui em Idanha. Já está reformado há 7 anos e trabalhou muito; primeiro num escritório, a seguir foi para o Ultramar e quando regressou, entrou para um armazém de mercearias onde esteve 34 anos”, narra.

Como era filha única, sempre teve o desejo de ter duas crianças. “Após nascer o meu primeiro filho, alimentava o desejo que o próximo fosse uma menina. Não calhou. Fiquei com dois meninos lindos!”. Mas um dos filhos casou e deu-lhe duas alegrias. “Tenho dois netos, um casal – uma menina de 6 anos e um menino de 9. São a luz dos meus olhos!”, exclama feliz.


E a sua presença na Feira Raiana? Pois, desvendamos agora o segredo. Maria José é artesã! Faz renda, bordados, costura, ponto cruz, etc. Há muitos anos, aprendeu costura com uma modista, porém, o bichinho já existe desde pequena. “As pessoas mais velhas ensinaram-me quando eu era uma menina e sempre adorei isto: lã, costura, colchas de renda, toalhas de ponto cruz, trabalhos em linho, etc. Vejo modelos e revistas, invento, sempre de agulha na mão”. Enganam-se se pensam que é um mero passatempo. Todos os dias, à noite, depois de um longo dia de trabalho, faz o que realmente ama de paixão.
A idanhense executa sobretudo por encomenda. “Vendo muito para as pessoas de cá. Os amigos sabem, apreciam, compram e dão o meu contacto”. Mas a montra ao vivo e a cores, é na Feira Raiana, onde expõe pela segunda vez. “Nas primeiras feiras, não podia vir porque trabalhava aos fins-de-semana. Agora já posso. Os visitantes da Feira compram aqui, mas não só. Também me pedem para fazer em casa e irem lá buscar”, explica. Maria José afirma que a Feira Raiana veio ajudar na evolução de Idanha-a-Nova. “Aqui não há tanto turismo como em Monsanto ou Penha Garcia. Acho que é por não haver indústria, nem empresários a investirem na região. Houve uma evolução com a construção de infra-estruturas como os lares, por exemplo. Mas a Feira tem dado um excelente empurrão para atrair gente e travar a desertificação. Há dinamismo, movimento e animação, porque estamos aqui bem centrados e organizados, todos juntos em entre-ajuda”, relata com uma alegria contagiante.

E sonhos para o futuro? Maria José revela que tem dois: um é ver o outro filho casado (se assim o desejar) e netos. O outro é ter um espaço para expor as suas obras. “Gostava tanto de ter um sítio para o público poder ver os meus trabalhos. Mas as rendas são caras e não tenho possibilidades financeiras para tal”. Outra tristeza é o facto de não ter nem carro, nem carta de condução. “Não se proporcionou. O meu marido também não tem ambas. Se tivesse carro, eu tinha tirado a carta e já andaria aí de feira em feira”, exprime com um brilho nos olhos. Mas ainda tem esperança do seu cantinho de exposição, pois apesar de estar há um ano da reforma, não se vê nesse estatuto. Daí, remata decidida. “Fico satisfeita por chegar a reforma, claro. Só não quero ficar parada sem fazer nada. Vou dedicar-me aos meus netos e a minha paixão por este artesanato”.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UMA ALENTEJANA APAIXONADA PELA BEIRA E PELO SEU POVO (parte II)

Foto Olho de Turista: Termas de Monfortinho
Numa das estadias em Portugal, a mãe e o namorado pregam-lhe uma partida. “Eu estava em Portugal porque a lei Suiça obrigava-nos a vir pelo menos um mês até a renovação do contrato. Esperei que as freiras mo mandassem para eu ir trabalhar para as salas de reuniões de um hotel”, conta. No entanto, não esperava que a mãe e o namorado escondessem o tão desejado contrato. Motivo: queriam que ela ficasse em terras lusas. E assim foi, ficou, casou e sentiu-se “deslocada”. Estava em Monfortinho, localidade onde alguns anos antes, tinha conhecido o marido por intermédio de uma amiga de adolescência. “Aos 18 anos, fui visitar uma amiga à Monfortinho. Perdi a camioneta e o primo dela veio buscar-me a Castelo Branco. O primo dela é hoje meu marido!” refere soltando uma gargalhada.
Foto Olho de Turista: Termas de Monfortinho

Contudo, em Monfortinho, o stress e uma mentalidade local diferente fazem-na desanimar e sentir-se desconfortável. “Comparadas com a Suiça, as mentalidades eram fechadas e eu não estava a conseguir entender isso. Sentia-me uma estrangeira como se não falasse a mesma língua”. Após ponderar muito bem, toma a decisão de se afastar da aldeia durante o Inverno. Um passeio ao Fundão, cidade pela qual se apaixona, é a escolhida para os meses de frio. “No Verão, tomava conta dos meus hóspedes e no Inverno levava a família toda atrás para o apartamento do Fundão”. Entretanto, cria o seu site levando os pedidos de hospedagem a aumentarem. “As pessoas começaram a vir aos fins-de-semana de Inverno, eu ia atendê-las e voltava a correr para o Fundão”. Cansada dessa correria constante, mentaliza-se a ficar nas Termas de Monfortinho. “Mudei a minha maneira de ser, tornei-me mais tolerante e estou aqui há 3 anos”, declara.

                                         Foto Olho de Turista:    Idanha-a-Nova (Castelo Branco)
Determinada em marcar a diferença, tira um curso de estética e torna-se itinerante, andando por Monsanto, Penha Garcia, Idanha para se aproximar do povo beirão. “Queria elevar a auto-estima das pessoas. Arranjava os pés e as mãos, mas sobretudo levava alegria, conversa e boa disposição. As pessoas daqui estavam muito tristes e isoladas. Eu quis e quero incentivá-las a cuidarem-se, a sair de casa e a sorrirem”. E o retorno? Maria do Céu divulga dois pontos que põem o seu coração em alvoroço. “Trago muito material para casa: laranjas, azeite, flores, etc. E sinto-me tão motivada. Depois quando me dizem «Ah! As minhas mãos estão uma maravilha, parece a Nossa Senhora de Fátima». Isso mostra o alívio e agrado delas”, confirma com a sensação de dever cumprido.

Casa típica de Monsanto


A pensão Boavista nunca é esquecida, aliás é sempre lá onde tudo começa. Foi o padrinho já de idade que lhe passou esse legado: uma casa antiga e tradicional, existente desde 1940. A hospitalidade e o tratamento dado aos clientes são exemplares. É a dedicação aos outros e a sua afeição que dá força e auto-realização a Maria do Céu. Além disso, suprimiu a televisão e organizou actividades simples e acolhedoras. Esse conjunto de factores fideliza a clientela e propicia as amizades. “Administro a minha pensão de forma a que todos se sintam em casa. Levamos os hóspedes a buscar pinhas ou água à fonte, fazemos serões animados com petiscos e bom vinho. Tentamos sempre integrar as pessoas. Se houver alguém sozinho, não descansamos até inteirá-lo no grupo”, afirma. Consequentemente, os visitantes já não vão a Monfortinho exclusivamente por causa das Termas, mas sobretudo pelo carinho e bem-estar encontrados na estalagem.
                                              Foto Olho de Turista Pensão Boavista
                                                  

É nessa perspectiva que a gerente concebe a vida e adianta ainda que para se ser feliz, deve-se “levantar com uma enorme vontade de viver e boa disposição; esquecer a má disposição e o pessimismo; Não ter medo, nem ficar presa ao passado, mas viver intensamente lutando por aquilo que queremos”. Por isso, após ter o primeiro filho (actualmente com 26 anos), debateu-se durante 13 anos com tratamentos de fertilidade para ter o segundo.















Foto Olho de Turista: Maria do Céu


Mulher batalhadora, planeia actualmente remodelar e modernizar a pensão, mantendo os valores. Porém, ao mesmo tempo, prepara-se para delinear estratégias, pois irá participar na lista das eleições autárquicas. “Através de um pequeno cargo que eu possa cumprir, quero fazer crescer as Termas e ser uma ponte entre as pessoas e a Autarquia. O objectivo é tirar partido das condições da aldeia, dar ânimo e inovação acordando a povoação da hibernação”. Prestes a acabar o 12º ano no âmbito das Novas Oportunidades, Maria do Céu já tem ideias: avivar a avenida principal com casinhas de artesanato, música, produtos tradicionais e construir uma Ecopista.
Termas de Monfortinho preparem-se! Maria do Céu vai cativar e revolucionar as vossas vidas!

 
Texto escrito por Helena Teixeira

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

UMA ALENTEJANA APAIXONADA PELA BEIRA E PELO SEU POVO (parte I)

Foto Olho de Turista: Maria do Céu

Natural de Cadafaz, uma pequena aldeia de Gavião – Alto Alentejo (Distrito de Portalegre), Maria do Céu Ribeiro é uma mulher trabalhadora e decidida. Os pais, mas sobretudo a avó, foram figuras determinantes na formação do seu carácter. “A minha avó Ivone era a figura mais conhecida da aldeia e era a mulher de todos os ofícios desde grande comerciante a parteira”, refere. Com 87 anos de vida, foi sempre uma senhora de louvar. Pois, era não só a pessoa a quem recorriam para pedir ajuda, como também era a única mulher comerciante presente nas feiras no meio dos homens. Sem tempo para ser dona de casa a 100%, deu na mesma tudo aos seus 4 filhos e “tinha sempre dinheiro no bolso”. Por ter testemunhado isso, Maria do Céu cresceu com a noção de independência bem vincada. Os pais casaram novos e tinham algumas dificuldades. Mediante tal, com 9/10 anos, trabalhava nas férias para os ajudar, ia com a avó nas campanhas do tomate, da uva ou da maçã. “Eu fazia isso não por necessidade, mas mais para ter dinheiro para pagar os meus livros e as roupas para o início do ano lectivo”, esclarece.



Mapa do concelho de Gavião- retirada da internet



Um pouco mais crescida, o trabalho não pára: toma conta de crianças e idosos, e escreve-lhes as cartas. Depois de se mudar para o Ribatejo com os pais, decide estudar de noite, enquanto trabalha de dia num consultório dentário na freguesia do Rossio ao Sul do Tejo (Concelho de Abrantes). “Era orgulho, queria ser independente dos meus pais. Muito novos, tínhamos tarefas para nos ensinar a ser autónomos. Sempre tivemos a noção do dinheiro, de quanto havia, do que podíamos ou não comprar”, explica. E aconselha que se deve ser realista com as crianças. “Sabíamos da realidade e das dificuldades. Os pais devem mostrar os factos reais. Quando não têm, não devem dar bens materiais aos filhos e passar sacrifícios, só se for por comida”.
Maria do Céu ensina essa óptica aos filhos e consciencializa-os, tal como os pais fizeram com ela e com os irmãos. “Os meus pais sempre confiaram muito em mim, davam-me liberdade e responsabilizavam-me. Assim, eu ia sozinha para todo o lado e não tinha medo”. Daí aos 17 anos, sentiu vontade de conhecer um outro mundo e partiu para a Suiça. Os pais ficaram tristes e inquietos por vê-la ir sozinha, mas acabaram por concordar.

Suiça alemã- imagem retirada da internet

Na altura, muitas pessoas emigravam para a Suiça por motivos financeiros, pois era considerado um país onde se ganhava bem. “Tratei dos papéis sozinha e fui trabalhar para um lar. Com estava na parte alemã, aprendi alemão de forma rápida e reforcei o meu francês”. Eficiente, passou do serviço da cozinha à recolha das dietas, à manutenção dos quartos e ao convívio com os idosos. Desses tempos, recorda um episódio marcante. “Havia uma freira que estava doente e ouvi-a a cantarolar a cantiga do Avé de Fátima. Tornei-me amiga dela e conheci um convento enorme onde as freiras eram auto-suficientes. Fiquei muito impressionada porque elas faziam de tudo: esparguete, vinho de maçã e doces e vendiam os seus produtos. Também davam aulas às meninas ricas no colégio interno”.

De repente a vida de Maria do Céu sofre uma reviravolta inesperada...

....é o que vamos descobrir na próxima quarta -feira.