terça-feira, 14 de setembro de 2010

´Parabéns Natália!

Sabugal é a terra onde nasceu, estudou e viveu toda a sua vida, ao longo destes 50 anos. Parece uma eternidade! Tem uma experiência de vida para nos contar:

Estudou até ao 7º ano do secundário ( equivalente ao 11º ano da nova geração), quando estava a completar os seus 17 aninhos. Terminada essa etapa tinha uma mão cheia de sonhos, como qualquer moça da sua idade: gostava de ir para a universidade estudar História, a sua grande paixão. Mas a vida quis ser sua madrasta: inesperadamente faleceu o seu pai e teve que enfrentar a vida real. Agarrou as rédeas do negócio de família, o Café Riba Côa , juntamente com a sua irmã e a sua mãe, e teve que deixar de lado os sonhos. Tinha que trabalhar para sustentar a casa, mas não se sentia realizada.


Aos 20 anos recebeu uma proposta irrecusável: um tio convidou-a para ir viver para a Argentina. A ideia de conhecer outras pessoas e outras realidades, motivou-a aceitar o convite. Quando lá chegou tudo era novo. “Foi uma experiência incrível e quase lá ia ficando...mas já algo me prendia ao Sabugal!”. Passados 3 meses, lá estava ela de novo em Sabugal, cheia de energia para dar e vender. Retomou a sua vida que tinha deixado para trás, assim como regressou ao convívio do grupo de jovens da sua Paróquia .Tudo parecia igual. Até que um dia conheceu um belo rapaz, o Romeu, aquele que iria ser o seu companheiro para toda a vida. Namorou , casou e teve filhos. Surgiu uma mudança na sua vida profissional, que a obrigava a deslocar-se para a Guarda. Optou pela família e dedicou-se exclusivamente a ela durante algum tempo.

Mas não podia ficar quieta. Logo que pode procurou conciliar a vida familiar com a profissional. “Além de contactar com muita gente...geria o meu próprio tempo, por isso, consegui ser uma Mãe presente, pelo menos até os filhos irem para a Universidade” , diz a Natália. Tornou-se empresária de vários ramos e até chegou a representar muitas empresas.

Chegou a ser fazer parte da Assembleia de Freguesia, “a única mulher... primeiro vista como «uma pedra no sapato»”. Teve que “provar que estava a ocupar um lugar alcançado com toda a legitimidade e ocupado com toda a dignidade!”

Assim foi vivendo em Sabugal, procurando sempre um bom relacionamento com as pessoas da terra. Foi conquistando o respeito e o carinho de todos, tanto que é tratada e conhecida por Natalinha.

No entanto, sentia-se desenquadrada havia algo que escapava : queria fazer algo que realmente a realizasse profissionalmente .Até que um belo dia a sua atenção virou-se para uma casa no Largo do Castelo. “ A placa «VENDE-SE» afixada nas paredes era um apelo à nossa imaginação... para o tal projecto de apoio ao Turista e com produtos que divulgassem o nosso Concelho! Conseguimos comprá-la!”, diz entusiasmada. Conheciam bem pedra sobre pedra daquele Largo, pois o seu “marido nasceu à sombra do Castelo(…). Era um Largo com o nosso imponente Castelo de Cinco Quinas...que estava de braços abertos para receber os visitantes, mas que para além do Posto de Turismo com horário limitado... não havia mais nada”.
Foi um sonho que demorou 10 anos a concretizar-se. A vida deu-lhe de presente o seu sonho de menina: o curso não pôde ter, mas conseguiu, sem saber, uma Casa recheada de História!

A sua casa tornou-se emblemática, pelos tesouros que lá guarda e pela pessoa que está à frente. O seu entusiasmo e amor à História parece contagiar a quem lá passa: “As nossas raízes históricas estão aqui na Casa do Castelo...para serem partilhadas...”, diz com sorriso .

Essa pergunta não lhe fiz, mas creio que agora se sente, naturalmente feliz e realizada. Depois de tantos anos descobriu a sua verdadeira vocação. Sem dar por isso, assumiu o papel, embora simbólico, de embaixadora das terras Sabugalenses.

Nada como terminar em beleza com uma citação de Fernando Pessoa:

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado alguma vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa

Natália faz hoje precisamente 50 anos. E em homenagem a ela, estou a publicar hoje , e não amanhã, como é habitual todas as 4ª feiras. Até para a semana, com uma nova mulher beirã!

2 comentários:

passadodepedra disse...

Grande Natália! Parabéns

Anónimo disse...

Bravo Natália.

Grandes mulheres que existem por este Portugal fora,mas ainda bem que há quem se interesse por elas e nos deixam o seu testemunho.

Este documentário,e outros,que aqui vamos lendo,faz-me pensar em toda a minha vida (tenho 61 anos)e também uma vida que daria para um livro ENORME.
Qualquer dia vou dedicar-me a escrever.

Obrigada uma vez mais a quem nos traz estas histórias VERDADEIRAS.

Saudações para todas