quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pontos e Linhas de Idanha



Já foi à Feira Raiana em Idanha-a-Nova? Caso nunca tenha ido, não se preocupe, tem tempo de preencher essa lacuna. Desta vez, o Clube das Mulheres Beirãs apresenta-lhe Maria José da Silva, uma idanhense genuína. Qual é a ligação com a Feira? Descubra lendo a nossa entrevista de hoje.



Maria José da Silva é 100% idanhense. Nasceu em Idanha-a-Nova há 64 anos (quase 65, murmura rindo), aqui cresceu, casou e “vai vivendo”.

A sua infância foi igual a tantas outras famílias pobres. “Vivia no campo. Ia de muito longe a pé para a escola. E como era filha única, ainda fiz até a 4ª classe. Sai e fui trabalhar”, conta. A vida no campo leva-a primeiro a lavoura agrícola. Entretanto, sendo uma mulher trabalhadora para quem “todo o tipo de trabalho servia”, Maria José arranja emprego na Cooperativa de Queijo da Beira Baixa. Contudo, a vida obriga-a a seguir outro rumo. “O queijo era muito bom. O trabalho era muito pesado, mas fazia-se. Quando comecei a ter problemas de saúde – várias operações ao fígado e outras doenças, tive de sair”, conta. O último emprego (onde ainda se encontra actualmente) é num lar de idosos de Idanha. “Gosto muito de estar lá. As pessoas de idade são muito queridas e sensíveis. Têm histórias de vida muito interessantes. Pena nem sempre ter o tempo que gostava para as ouvir a todas”, expressa com um sorriso tímido.

E a vida familiar? Ainda na mocidade, aos 16 anos, começa a namorar. Sete anos depois, casa-se. E como não podia deixar de ser: o marido é também um fiel idanhense. “Conheci o meu marido aqui em Idanha. Já está reformado há 7 anos e trabalhou muito; primeiro num escritório, a seguir foi para o Ultramar e quando regressou, entrou para um armazém de mercearias onde esteve 34 anos”, narra.

Como era filha única, sempre teve o desejo de ter duas crianças. “Após nascer o meu primeiro filho, alimentava o desejo que o próximo fosse uma menina. Não calhou. Fiquei com dois meninos lindos!”. Mas um dos filhos casou e deu-lhe duas alegrias. “Tenho dois netos, um casal – uma menina de 6 anos e um menino de 9. São a luz dos meus olhos!”, exclama feliz.


E a sua presença na Feira Raiana? Pois, desvendamos agora o segredo. Maria José é artesã! Faz renda, bordados, costura, ponto cruz, etc. Há muitos anos, aprendeu costura com uma modista, porém, o bichinho já existe desde pequena. “As pessoas mais velhas ensinaram-me quando eu era uma menina e sempre adorei isto: lã, costura, colchas de renda, toalhas de ponto cruz, trabalhos em linho, etc. Vejo modelos e revistas, invento, sempre de agulha na mão”. Enganam-se se pensam que é um mero passatempo. Todos os dias, à noite, depois de um longo dia de trabalho, faz o que realmente ama de paixão.
A idanhense executa sobretudo por encomenda. “Vendo muito para as pessoas de cá. Os amigos sabem, apreciam, compram e dão o meu contacto”. Mas a montra ao vivo e a cores, é na Feira Raiana, onde expõe pela segunda vez. “Nas primeiras feiras, não podia vir porque trabalhava aos fins-de-semana. Agora já posso. Os visitantes da Feira compram aqui, mas não só. Também me pedem para fazer em casa e irem lá buscar”, explica. Maria José afirma que a Feira Raiana veio ajudar na evolução de Idanha-a-Nova. “Aqui não há tanto turismo como em Monsanto ou Penha Garcia. Acho que é por não haver indústria, nem empresários a investirem na região. Houve uma evolução com a construção de infra-estruturas como os lares, por exemplo. Mas a Feira tem dado um excelente empurrão para atrair gente e travar a desertificação. Há dinamismo, movimento e animação, porque estamos aqui bem centrados e organizados, todos juntos em entre-ajuda”, relata com uma alegria contagiante.

E sonhos para o futuro? Maria José revela que tem dois: um é ver o outro filho casado (se assim o desejar) e netos. O outro é ter um espaço para expor as suas obras. “Gostava tanto de ter um sítio para o público poder ver os meus trabalhos. Mas as rendas são caras e não tenho possibilidades financeiras para tal”. Outra tristeza é o facto de não ter nem carro, nem carta de condução. “Não se proporcionou. O meu marido também não tem ambas. Se tivesse carro, eu tinha tirado a carta e já andaria aí de feira em feira”, exprime com um brilho nos olhos. Mas ainda tem esperança do seu cantinho de exposição, pois apesar de estar há um ano da reforma, não se vê nesse estatuto. Daí, remata decidida. “Fico satisfeita por chegar a reforma, claro. Só não quero ficar parada sem fazer nada. Vou dedicar-me aos meus netos e a minha paixão por este artesanato”.

9 comentários:

Pascoalita disse...

Mais uma história! Mais uma Mulher de garra! E desta vez é uma homónima minha eheheh

Muito gostaria de ver a sua OBRA, senão ao vivo e a cores, pelo menos uma foto da sua exposição na Feira.

Também já dediquei muita horas a fazer tricot, crochet e fiz umas coisitas em ponto de crus, por isso sei a dedicação e minúcia que esses trabalhos requerem e o carinho que dedicamos a cada "obra".

Parabéns e as meiores felicidades à minha homónima. Fico a torcer para que o seu sonho de vir a dispor de um cantinho para expor os trablhos se concretizze em breve.

Obrigada, SUSANA por nos dares a conhecer essa Senhora simpática.

Susana Falhas disse...

Pascoalita: as fotos foram tiradas na feira. Ela está a expor e avender o seu trabalho lá. Sempre podes dar um saltinho à feira até este domingo e conhecer pessoalmente essa senhora, que por acaso é mesmo tua homónima!

Bjs Susana

Helena Teixeira disse...

Ola,Pascoalita!
As mulheres de Idanha são artesãs fantásticas.Tens mesmo de ir ver ao vivo.Joías,Pinturas,Bordados de Castelo Branco.Um vestido de noiva de Inverno com esse bordado estava exposto.lindíssimo pela originalidade e a preciosidade do trabalho!Espreita a Aldeia,vais entender o que quero dizer sobre tanta coisa bonita que lá vimos.

Jocas gordas
Lena

Anónimo disse...

Olá Maria José fiquei sua admiradora, somos parecidas nos gostos eu agora faço poucos bordados por ter a vista cansada mas faço muito crochet porque adoro, quando os meus filhos eram pequenos fazia-lhes todos os agasalhos em lã e para fora também. A primeira roupa em malha dos meus netos fui sempre eu que as fiz e estão guardadas como recordação da avó. Por isso admiro mulheres dedicadas à família. Mando-lhe um grande beijinho.

Pitanga Doce disse...

Bordar é um dom. As cores deixam perceber o que vai na alma da pessoa no momento em que ela executa o trabalho.


Mais uma mulher Beirã cheia de coragem e bom gosto!

boa noite Susana e Helena!

Emília Pinto disse...

Oi Susana
Mais uma vez,sempre de parab´ens com essas Senhoras de fibra.
Mulheres ,que trabalham at´e o dia cair e d~ao verdadeiras lic~oes de vida.
At´´e breve
Herminia

Unknown disse...

Meninas Susana e Helena,

Hoje tive tempo de espreitar todos os vossos blogues.
Mesmo sendo homem adorei esta entrevista da senhora artesã de Idanha e as anteriores também.

Afinal, em cada ser humano, homem ou mulher com que nos cruzamos ou que de alguma forma conhecemos, há sempre algo em que nos é superior e logo aprendemos algo.

Beijinhos!

Helena Teixeira disse...

Ola a todos!
Sim,esta senhora era um mimo,sempre a sorrir.Senti mesmo que a paixão dela era estar sempre de agulha na mão e que de facto quando se reformasse seria muito mais feliz,nao por tar parada,mas a trabalhar horas e horas na sua arte.Pa semana,temos uma senhora mais jovem,mas que passou por um episódio triste.Verão...
Jocas gordas a todos!
Lena

Maria Emília disse...

Olá Helena,
Muito interessante este seu espaço. Ainda não deu para ler muito mas gostei bastante do que já vi.
Vou voltar com mais tempo para ficar a conhecer um pouco melhor as mulheres beirãs.
Um grande abraço,
Maria Emília