quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A DOCEIRA DE TRANCOSO - Parte II

Casa do Conde de Trancoso William C. Beresford
(foto tirada da Internet)

Depois de uma patroa lhe deixar em herança uma casa e uma certa quantia no banco, alugam um pequeno espaço para a desejada loja de ferragens (que ainda hoje se encontra em funcionamento). O local escolhido não poderia ser melhor. É o rés-do-chão da casa do Conde de Trancoso. A moradia data do século XIV e tem um alpendre sustentado por 3 colunas. Durante a guerra peninsular contra as tropas napoleónicas, foi o quartel-general de William Carr Beresford, conde de Trancoso e Comandante-chefe das tropas anglo-saxónicas. Em 2001, surge uma grande oportunidade para o casal. O proprietário avisa os locatários da sua decisão: a casa está à venda. Todos os inquilinos fazem ofertas e a resolução é feita em tribunal. Maria da Conceição sai vitoriosa, e junto com o marido, fazem as obras e remodelações necessárias.



Sardinhas Doces, jóia gastronómica de Trancoso
(imagem tirada da Internet)


O espírito empreendedor da beirã permanece, fazendo-a descobrir na pastelaria tradicional uma fonte de rendimentos. “Tinha uma vizinha que era cozinheira em várias casas particulares. Ela ensinou-me muitos doces, e especificamente as Sardinhas Doces, o doce mais conhecido da cidade. Eu era curiosa e ganhei-lhe o jeito rapidamente”, refere, e confidencia-nos que “hoje em dia, em cerca de 1 hora, faz 3 dúzias”. Maria da Conceição segue a receita tradicional: massa estaladiça, coberta de chocolate e açúcar, e recheio de doce de ovos, canela e amêndoa. E sabem a origem desta iguaria? O doce era confeccionado por 4 freiras do Convento de Santa Clara, no intuito de sobreviverem.
No entanto, além das sardinhas sem escamas nem espinhas, Maria da Conceição é uma pasteleira de mão cheia, pois também faz as tradicionais bolas de folhas e bolas de chocolate, entre outros doces. Seguidores? Infelizmente não tem. As irmãs têm uma vida preenchida: uma no Carvalhal e outra em Lisboa. A mocidade trabalha os empregos de Verão e o resto perdeu o interesse ou aprende nas pastelarias por lá espalhadas. “É pena porque eu já recebi aqui alunas de várias escolas profissionais da região. Mostrei-lhes ao vivo a confecção e gostei muito de as ensinar”.
Porém, maior mágoa ainda é a de não ter tido filhos. Contudo, considera-se uma mulher afortunada por ter dois afilhados e muitos sobrinhos, e claro, um marido “fabuloso e amigo”.

4 comentários:

Pitanga Doce disse...

É verdade. Esta Senhora seria uma professora maravilhosa e ensinaria a arte a toda a mocidade, mas quem precisa trabalhar neste ramo também precisa de certificados de cursos, quem nem sempre ensinam "o pulo do gato", como a experiência desta Senhora tem.
Alguns até precisam sair do país para obter os tais certificados e quando voltam querem trabalhar nos grandes centros.

boa tarde, Susana, e aguardo o teu mail, então.

Susana Falhas disse...

Olha é isso mesmo! E mais, a senhora chegou a confidenciar-me que já passaram por lá algumas raparigas da terra para aprender, que acabavam por desistir...porque não conseguiam fazer como ela. Ela disse até que quando aprendeu, também não ficavam bem logos à primeira. Foram precisas muitas tentativas para aprender os verdadeiros truques desse doce. A persitência parece que é uma qualidade que falta às moças de hoje...(diz ela)

Obrigada pela tua presença aqui no clube!

Bjs Susana

Anónimo disse...

A melhor doçaria é a tradicional e feita por Senhoras como essa que tem mãos de fada e amam o que fazem(sim porque é preciso amar a arte )
e tem segredos valiosos alguns não são confiados a seguidores porque não os há.Grandes doceiras sem diplomas porque antigamente não era muito usual tê-los e que nos deixaram coisas boas e hoje muito procuradas porque apreciadas.Bjo para a doceira e para si Susana.

Pascoalita disse...

Gostei muito de ler a história de vida da Conceição.

É mesmo pena que não haja mais empenho por parte de quem decide no sentido de dar continuidade ao que ainda existe e tentar recuperar as tradições que já desapareceram.

Bem sei que exige grande esforço e é por isso que admiro o que fazes, mas tenho fé que vai valer a pena.

Da próxima vez que passe em Trancoso, não deixarei de provar as especialidades da D. Conceição :)*

Jinho