quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

“A MINHA TERRA MERECE TER TUDO!” (1ª Parte)


(Foto da Olho de Turista)

Através dos olhos de Maria do Rosário Pires, olhamos para a paisagem a perder de vista do alto do Castelo de Linhares da Beira. Esta filha da terra cresceu numa casa de lavoura. Pequena, ia da escola para a casa dos avós, sempre a cantarolar. Ajudava o avô a cuidar das ovelhas e dos bois. Acaba a quarta classe com dois desejos: ser costureira ou cabeleireira.

No entanto, os seus pais optam por emigrar, levando a família. Aos 15 anos, Maria atravessa um oceano para bem longe da sua aldeia natal. Tal como os nossos antepassados, a jovem sente-se pronta a conquistar estes solos desconhecidos, chamados Estados Unidos da América. A tia tinha incentivado o seu pai a tentar a vida naquele país. A adolescente não queria nada ir; gostava da sua vida em Linhares da Beira. Os primeiros tempos de adaptação decorrem suavemente, pois “em qualquer parte do Mundo, há sempre um português da nossa zona, com filhos da nossa idade. Isso ajuda a ambientar-nos. Depois cria-se um grupo de amigos com o qual ia a jogos de futebol, a bailaricos ou comer hambúrgueres. Todos se tornam muito unidos.”, revela Maria.

No início, começa a trabalhar numa fábrica. Mas ela quer ir mais além na vida, voar com asas adquiridas com trabalho físico e mental. Essa oportunidade aparece-lhe no curso de cabeleireira. “Na fábrica, conheci uma moça que frequentava um curso de cabeleireira. Ainda pensei em desistir por só ter a 4ª classe. Porém, decidi falar com ela. Informei-me e inscrevi-me. Como paguei 500 dólares pela inscrição, quando cheguei a casa, o meu pai desafiou-me: «Menina, se começas, é bom que acabes»”, conta com ar sério. Munida de um livro de uma enorme espessura, sem entender correctamente toda a língua americana, a jovem estuda a “medicina do cabelo”. “Só estava há um ano nos EUA, por isso a teoria era difícil para mim. Tínhamos muito para aprender: desde os poros da pele aos pigmentos e até aos ossos do queixo. Ultrapassei várias barreiras e finalmente consegui”, confessa orgulhosa.


(Imagem retirada da Internet)

Esta mulher de 59 anos é uma apaixonada pela arte de ser cabeleireira. Após trabalhar 6 anos por conta de outrem, abre o seu próprio estabelecimento. “Sempre trabalhei com o coração em tudo. Arranjava os cabelos, criava, moldava e tratava. Era o que mais gostava de fazer o dia todo”, comprova, triste por actualmente a saúde não lho permitir. Mas antes, casa-se com um transmontano de Chaves. “Casei em 1972 com o meu Zeca. O mais engraçado foi que a mãe e a tia dele eram minhas clientes. Digo na brincadeira que a minha sogra me lançou um feitiço debaixo do secador dizendo que eu seria jeitosa para o filho; a tia exclamou logo no salão que o sobrinho seria perfeito para mim. Acertaram”. Enamorada, recorda como se fosse ontem o dia em que conheceu o marido com quem viria a ter dois meninos (hoje adultos). E é pelo “seu Zeca” que regressa a Portugal. Nos EUA, o marido sofria muitas vezes de crises de ansiedade. Os médicos americanos pesquisaram, fizeram exames e nada encontraram a nível físico. Até que um deles aconselha o casal a ir de férias para Portugal e aproveitá-las bem. Dito e feito. Em Portugal, Zeca anda diariamente com uma saúde de ferro. “Nem pensei duas vezes. Vendi a casa, o salão, tudo. Peguei no marido, filhos e um contentor com o que queria trazer para Portugal. Diziam-me: «Estás doida. Tens uma vida com uma mina de ouro nos EUA. Mãos de fada para os cabelos com 70 a 80 clientes que passam por elas por semana. Que vais fazer para Portugal? Tosquiar ovelhas?». Eu respondia que se tivesse de ser, fá-lo-ia…”, expõe com convicção Maria do Rosário.

Descubra na próxima quarta-feira o que fez Maria do Rosário quando chegou em terras lusas…

2 comentários:

Helena Teixeira disse...

A menina Rosário é uma querida e vê-se nos olhos dela o Amor que tem pelo seu marido,pela sua casa,e sobretudo pela sua terra:Linhares da Beira.É uma grande mulher que ainda luta para manter Linhares no mapa :)

Jocas gordas
Lena

Anónimo disse...

Olá Clube das Mulheres Beirãs!
Já tive oportunidade de ir algumas vezes a Linhares da Beira.Pois,meu marido é fã de parapente.É uma aldeia deverás muito bonita e proporciona-nos um sentimento de evasão inquestionável.
Fiquei curiosa com o resto da história.Espero lê-la amanhã.

Beijos a todas as seguidoras do Clube

Ana Luísa