quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A IMPORTÂNCIA DA ARTE DE BEM VESTIR (2ª parte)

(Foto cedida por Francisca dos Prazeres)

Francisca começa por estranhar o modo de vida viseense e as pessoas. Vinham do Porto e lá tudo era diferente. Divertida, a modista conta-nos o episódio das calças. “Há 40 anos, os portuenses já usavam calças. Em Viseu, não. Ao chegar, eu vestia calças e a minha filha também. Todos olharam para nós e ouvia-se burburinhos. Dois anos depois, havia menos censura e a moda difundiu-se”. Desde então, a terra de Viriato torna-se mais bonita aos seus olhos. Quase a festejar 40 anos de vida em Viseu, Francisca sente-se totalmente beirã. “Habituei-me as pessoas. A cidade evoluiu. Aprecio a sua estrutura organizada. Os nossos dois grandes centros comerciais (Fórum e Palácio de Gelo) têm um aspecto arranjado, montras fantásticas”, exemplifica. Após o período de adaptação, retoma o atelier de costura caseiro com 7 empregadas. Trabalhava intensamente, quase de sol a sol e mal dormia. Era um frenesim constante. O pronto-a-vestir era algo desconhecido e as pessoas gostavam de vestir por medida. “Quem entrava no meu atelier, escolhia os figurinos ou traziam ideias. Muitas emigrantes pediam vestidos de noiva. Os trabalhos eram minuciosos, tudo feito meticulosamente. Também costurei para a loja dos Lanifícios e de pronto-a-vestir”, relata com orgulho.
Porém, os problemas de saúde surgem, obrigando-a a abrandar o ritmo de trabalho. Operação à vista e ao útero, problemas de ossos e estômago e um cancro da mama foram os principais obstáculos ultrapassados. “Sempre pressenti que tinha cancro da mama. Mas preferi calar essa voz dentro de mim e deixei andar. Aquando a minha operação ao útero (descaiu), o médico descobriu que eu tinha cancro. Fiz quimioterapia e radioterapia, até chegar a cirurgia onde me retiraram o peito esquerdo aos 77 anos”, narra com tranquilidade. Francisca é uma mulher de fibra, sem medo da morte nem de outra coisa, encara a vida com tranquilidade e “genica”. Desde nova, o gosto pela beleza e por uma aparência cuidada permanecem fortemente enraizadas nela. Isso reflete-se no seu quotidiano, recebendo elogios constantes. “Eu ia ao hospital muito bem arranjada. As enfermeiras diziam-me sempre (ainda hoje nas consultas de rotina): «está tão graciosa hoje. Foi a senhora que fez o seu vestido, vê-se logo. Aí outro tão lindo. Não sabemos qual dos seus fatos o mais bonito». Isso dava-me alento. Nem sequer sentia dor nas sessões de quimioterapia. Enfrentei as doenças com naturalidade, animando-me sempre com as minhas roupas e costura.”, enfatiza esta maravilhosa avó.

(Imagem retirada da Internet)

Actualmente, Francisca continua a ser uma “bonequinha”, como lhe chama carinhosamente a neta. “Porque ir para a rua desleixada, se posso fazê-lo bem composta. Mesmo para ir comprar pão ou deitar o lixo fora, vou bem bonita”, confessa com um sorriso amoroso. Em casa, o processo é o mesmo: gosta de limpo e no lugar certo. Esta menina de 81 anos até faz sempre questão de mostrar todos os compartimentos do seu apartamento, às visitas. Acreditamos que essa faceta não seja vaidade, mas Amor à arte de bem vestir e bem receber. “Gosto de estar bem vestida, penteada e maquilhada. A minha casa também tem de reflectir isso. A apresentação, seja na roupa ou na casa, dá outro aspecto. Hoje, ninguém se arranja como antigamente”, e acrescenta, “Achava engraçado nascer de novo neste século, para experimentar as liberdades, a maneira diferente de trajar, e os à-vontades no namoro”, manifesta com uma risada sonora.
Ao longo da sua vida, Francisca reconhece ter tido um misto de momentos de tristeza e de felicidade. No entanto, todos admitem que ela mantém inalterável a sua enorme vontade de viver e o empenho em tudo o que faz. “Diariamente, levo a vida tranquilamente, com muita paz de espírito. Costura? Ainda faço, claro, para a família. Sobretudo fatos e vestidos para festas mais solenes”, concluiu, agradecendo gentilmente a visita e convidando a repeti-la mais vezes.

8 comentários:

Sandra disse...

Amiga!
Desta vez, não foi possivel participar da coletiva.
Um grande abraço.
Sandra

Helena Teixeira disse...

Olá Sandra!
Obrigada pelas lindas palavras :)
Não há problema se nao pôde participar.O importante é que se restabeleça rápido e fique 100% boa.Descanse muito :)

Jocas gordas
Lena

amitaf disse...

Hoje sinto-me muito infeliz.

E como aqui ninguem me conhece,acho o "sítio" ideal para chorar.

Tenho um irmão na "recta final da vida".
Gosto muito dele e estou completamente desorientada.
Já perdi o meu pai quando tinha 6 anos,(era demasiado pequena para "viver" a morte)perdi a minha mãe aos 34.

E como saí de casa desse irmão para casar,(vivi com ele alguns anos)tenho muito amor e carinho por ele.
Que Deus e a minha mãe me perdoe,mas está a custar-me mais a "separação" deste irmão,do que a dela.
Se calhar será por ser mais velha,e pense mais na morte,(tenho 60 anos)não sei.....
Só sei que me sinto horrível.
Peço perdão pelo desabafo.
Fátima

Helena Teixeira disse...

Olá Fátima!
Não há problema,pode e deve desabafar à vontade.Fico triste pelo seu irmão.Se acredita em Deus ou em qquer outra coisa,espero que Ele acompanhe o seu irmão nesse caminho de doença e nessa recta,tirando sofrimento e dando-lhe qualidade de vida ou a escolha mais dura e triste.
Desejo-lhe muita força e coragem para enfrentar esse momento.
Estamos aqui sempre que precisar.

Jocas gordas
Lena

Luis disse...

Olá Bom Dia,
Como compreendo o teor deste post!
Em tempos idos também verifiquei algo semelhante em Jalles, um lugarejo em Trás-os-Montes. No princípio todos se vestiam à antiga e olhavam de soslaio quem vinha de Lisboa pela forma de se vestirem. Eram as "jeans", as "mini-saias", etc. Tempos mais tarde eram já todos a vestirem-se de igual modo e já não havia murmúrios! A vida é assim!
saudações amigas,
Luís

amitaf disse...

Olá Leninha.
Muito obrigada,mais uma vez pelo "seu ombro amigo".

Tambem recebi o mail das tradições do Carnaval,tambem gostei.
Mas como deve compreender,estou naquela fase terrível de "PERDA".

O meu irmão ainda està a "aguentar-se"mas a fazer a alimentação já por sonda,e portanto será mais dia menos dia ou mais mês menos mês.

Peço muito a Deus por ele,está lúcido a 100% e de vez em quando vou-lhe falando.
Agradeço-lhe imenso as suas palavras de apoio.

Um grande beijinho.
Fátima

Helena Teixeira disse...

Olá Fátima!
Já sabe que sempre que precisar,estamos aqui :)
Ouvir não custa nada e dar um ombro também nao,até porque nos meus dois,cabem muitas pessoas queridas como a senhora :)

Força!

Jocas gordas
Lena

amitaf disse...

Olá Beirãs (e não só)

Á Leninha,mais uma vez o meu agradecimento pelas suas palavras de conforto,que me deixa aqui sempre que eu "choro".


Beijinho especial para ela,e para todas as pessoas que sofrem com as doenças dos familiares.

Saudações para todas.
Fátima