quarta-feira, 12 de maio de 2010

“NASCER É SOMENTE COMEÇAR A MORRER”* (Parte III)

(A jovem Cláudia Pais, de 11 anos. Foto cedida por Cristina Pais, a mãe)

O exercício físico é então aconselhável?
Muito. Não se pode é obrigar. Se a criança gostar de algum desporto e se sentir à vontade, devemos incentivar. Com a Cláudia, a natação é essencial e não pode ser praticada numa piscina qualquer, por causa do contacto com a água fria. Em Viseu, só pode nas Termas onde a temperatura da água é de 36/38ºC, a adequada aos ossos. Mas a verdadeira paixão dela é o Ballet. Começou há 4 anos e nunca mais parou. É uma aluna muito aplicada e adora dançar. Alias, se faltar a um dia de aula de Ballet, seja por que motivo for, ela fica aborrecida comigo.

Como reagiu a Cláudia quando lhe contou sobre a doença dela?
Nunca contei, ela foi sabendo e aprendendo ao mesmo tempo do que eu. Apesar dos seus 11 anos, é uma menina muito madura e super inteligente. A doença afecta-lhe o corpo e não a parte cerebral. O desenvolvimento intelectual é perfeitamente normal. Desde o início, acompanha tudo o que se passa com ela e à volta dela. Não gosta de ficar de fora das coisas, sobretudo dos assuntos que lhe dizem respeito. Por vezes, faz perguntas as quais não sei ou não quero responder porque quero que ela viva normalmente como o irmão, e não sobrecarregada de preocupações. Mas ela apercebe-se do que está bem ou mal, está atenta, conseguindo entender e saber de tudo.

E como é ela enquanto criança?
Na escola, ela tem um desenvolvimento regular. É esperta. Neste momento, frequenta o 6º ano. Claro que sou uma mãe babada e orgulhosa. Não é por ser a minha filha, mas a sua simpatia, e sobretudo o seu sorriso, encantam toda a gente. Ela transborda de energia e alegria, o que é contagiante. Adora pintar, dançar, passear ou ir ao cinema com as amigas. É uma grande adepta do Benfica. Mas o jogador que ela admira mais, é o Cristiano Ronaldo. Ah e é fã da gatinha japonesa Hello Kitty.

(Cláudia Pais e o irmão José, ambos de 11 anos. Foto cedida por Cristina Pais, a mãe)

E a relação com o irmão?
Eles só têm 10 meses de diferença, mas é como qualquer outra. Tanto se zangam como cão e gato ou é o amor de perdição. Defendem-se um ao outro, sendo ela a encobrir mais as asneiras dele. Mas ele também é muito protector com ela, às vezes até demais. Ai de quem falar ou fizer mal à irmã! Ela agora anda na fase em que quer mais liberdade. É muito activa e faz parte do carácter dela. Talvez por isso não compreenda, nem aceite de que não pode ser. Outra teima é quando tem de comer sopa de feijão ou lacticínios. Não gosta, não e não e pronto está o caldo entornado!

Ela sorri e a paz volta…
Ui, o sorriso dela! Quando o dia é cinzento, que tudo corre mal ou que se pensa nas muitas batalhas ainda por enfrentar, basta ouvi-la rir, basta vê-la sorrir e tudo passa, tudo vale a pena por mais um sorriso dela.

A Cláudia não pode fazer planos para o futuro, mas tem um sonho…
A vida dela é agarrada por um fio e vivida ao segundo. A única coisa planeada é a estadia de tratamento em Boston, assim como a marcação do tratamento nas Termas de Alcafache. Todavia, a esperança alimenta o sonho. Daí, a Cláudia também tem um: reunir em Portugal, os amigos especiais como ela. Ela já foi a uma reunião a outro país e ficou a imaginar um encontro similar aqui. Mas este sonho envolve uma grande organização e é muito dispendiosa. Ora, para me dedicar a 100% à minha filha, tive de deixar de trabalhar, ficando a receber o rendimento mínimo e um subsídio muito pequeno para a Cláudia. Apesar do valor dos tratamentos e das viagens aos EUA ser financiados pela fundação americana, toda a ajuda é necessária e bem-vinda.

Quem quiser ajudar a Cláudia na realização do seu sonho ou na sua luta contra a doença, pode fazê-lo através de donativos para a conta do banco Santander Totta, em nome de Ana Cristina Sousa Pais e cujo NIB é: 001800031419047402068.


* Citação de Théophile Gautier (séc. XIX), escritor, poeta, jornalista e crítico literário francês.


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