quarta-feira, 14 de abril de 2010

TRABALHAR, ESTUDAR, LUTAR, MAS NUNCA DESISTIR (parte 2)

(Casa-Convívio e Hospedaria de Cortecega, foto cedida por Eugénia Santa Cruz)
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E veio o suspiro de alívio…
(Ar aliviado) Finalmente, 8 meses depois, contemplamos a nossa morada: 3 quartos, uma sala, cozinha e casa de banho... Foi uma alegria enorme ver o sorriso da minha mãe ao ver que os filhos tinham um quarto e uma casa de banho. Fomos acabando as obras conforme podíamos. Tudo isto foi possível graças à cooperação das pessoas que com a sua boa vontade realizaram o sonho de uma família e de tantas outras.

Parece-me que as pessoas de Cortecega são solidárias e amigas?
(Animada) É verdade. A Beira Interior em si é assim. Mas em Cortecega, o que mais destaco é a bondade das suas gentes, as paisagens, a calma, o cantar dos passarinhos… Ao longo do ano vou várias vezes a minha aldeia, uma vez que não posso viver sem aquele verde, e também porque a Associação Desportiva e Cultural de Cortecega que, também ajudei de alguma forma construir, planeia diversas actividades. Acredito que a minha terra é um exemplo para tantas outras: o seu povo sempre muito divertido e unido, tudo tem feito para que Cortecega tenha as condições necessárias para receber os seus filhos, amigos e visitantes.

(Durante  a concentração de Agosto, fila dos Motards para o almoço; nesse dia, foram servidas 300 refeições; foto cedida por Eugénia Santa Cruz)
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Como por exemplo?
(Mais animada ainda) O Rancho Folclórico da minha aldeia é um exemplo giro. Percorri uma parte do país no rancho, onde andei dos 7 aos 15 anos. Depois passei para o Grupo de Danças e Cantares do Cadafaz. Ih, mas o melhor são dois grandes convívios: a concentração dos Motards em Agosto e o Almoço da Amizade na Páscoa. Há sempre uma forma de juntar toda a aldeia e os que residem em Lisboa para planear actividades e tudo o que isso implica a nível financeiro, logístico, etc. A Celeste (presidente da Associação) liga-nos e a palavra vai passando. Na véspera conforme vamos chegando de Lisboa e outros sítios, juntamo-nos aos da terra e toca a descascar batatas, limpar, arrumar… No dia D, homens, mulheres e filhos, todos estão a postos às 7 horas na Associação. Quem se atrasar, paga o pequeno-almoço! Depois, cada um sabe o que tem de fazer. É tudo caseiro: a Ilda dá batatas, Irene couves, Helena feijão, Beatriz sobremesas... Todos dão o que tem de cultivo, depois compra-se carne, peixe, enfim o que falta. Todos voluntários, tudo por amor à terra! Percebe agora porque amo tanto a minha terra!

(Almoço da Amizade - foto cedida por Eugénia Santa Cruz)
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Mas também foi por amor que deixou a sua terra?
(Ar enamorado) Embora já tivesse tido alguns namoricos de aldeia, comecei a namorar aos 15 anos com um jovem do mesmo concelho. Aos 23 anos, casei num belo dia de Outubro de 1986. Mudei-me para Lisboa porque o meu marido é agente da PSP e trabalhava na capital. Compramos casa na zona de Sintra, onde ainda hoje vivemos. É uma zona linda, é um privilégio viver aqui. As saudades da minha terra é que ai Jesus! O silêncio e a liberdade do campo, as pessoas que diziam «Bom dia, tia Maria! Bom dia nos dê Deus, prima!». Mas, já a minha mãe dizia que a mulher e o marido devem estar juntos. Arranjei emprego na embaixada de África do Sul, onde adorei estar. Depois fui chamada para a Câmara de Sintra, na qual entrei em Janeiro de 1989 e onde me encontro até hoje.

E foi a partir desse emprego que realizou um sonho adormecido?
(Sorriso de dever cumprido) Aos 19 anos, consegui um posto na área administrativa da autarquia de Góis. Tinha alcançado esse lugar por mérito próprio, por ser uma boa profissional, dedicada e sempre disposta a aprender mais. Nessa época, já acalentava em mim o objectivo de continuar a estudar. Quando entrei para a Câmara de Sintra, tive conhecimento de uma turma onde se poderia tirar o 5º e 6º ano. Quis logo inscrever-me, mas tive receio uma vez que já era Janeiro e as aulas tinham começado em Outubro. Surgiu a esperança quando me responderam que se conseguisse acompanhar a matéria e tivesse positiva nos testes, seria admitida. Agarrei-me ao estudo com as cópias cedidas pelos colegas e conclui o 6º. No ano seguinte, frequentei algumas unidades do ensino nocturno. No entanto, fiquei grávida e adiei os estudos. Cinco anos depois, conclui o 9º ano no programa Novas Oportunidades. Esperei também que a minha filha mais velha crescesse e pudesse tomar conta da irmã. Assim quando ela tinha 13 anos e o pai já não trabalhava à noite, voltei a escola. No fundo de mim, sentia uma grande paixão pelas formações que envolvem idosos ou crianças. Daí, escolhi o curso tecnológico de Acção Social. Três anos e o diploma nas mãos! Senti-me tão orgulhosa! Profissionalmente, sou uma pessoa realizada, pois trabalho na Divisão de Habitação e Acção Social.

Na próxima 4ª, veja como Eugénia nunca desiste e luta sempre pelos seus sonhos.

5 comentários:

Helena Teixeira disse...

Olá de novo :)
Ai hoje na Rádio Mangualde,no Programa Burn, vou avisar os Motards para lerem a entrevista para depois irem a essa festa ;)

Jocas gordas
Lena

Eugénia Cruz disse...

Leninha!
Obrigada por tudo,nunca é de mais divulgar a nossa terra e neste caso só tenho a agradecer a sua divulgação.
Obrigada também às pessoas que visitam este blog e se dão ao trabalho de comentar a minha historia de mulher Beirã. Tudo o que está escrito é a pura verdade, mas também não podia ser de outra maneira ou não seria eu.
Um Beijo
Eugénia Cruz

Pitanga Doce disse...

Lena! De volta às atividades, hein? A menina porreirinha!

beijinhos da Mila

Luis disse...

Olá amigas,
É sempre agradável visitá-las e por isso o faço com muito gosto! beijinhos amigos.

Pitanga Doce disse...

Lena vai lá em casa, minha noveleira favorita! hehehe Não tem o Rodrigo mas tem romance!