quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

“A SÉRIO, ESTOU GRÁVIDA” (parte 2)


Sílvia, na sua tarefa de animadora, no dia de abertura da loja Bertrand, no Centro Comercial Foz Plaza
(Foto cedida pela própria)

A Sílvia e eu tínhamos à volta de 28 e 23 anos, respectivamente. Queríamos ir a Fátima dar um passeio. Preparamos um piquenique e fomo-nos deitar. Ás 5h da manhã, sinto-a a tremelicar e exclamo a brincar: “Estás com febre ou quê? Estás a tremer.”. Em resposta, ouço uns grunhidos. Pensei que era mau sinal. Dei um pulo da cama, acendi a luz e ao ver a minha amiga com um fio de sangue nos lábios comecei a gritar feito sirene dos bombeiros. Os pais vieram logo para o quarto, medidor de nível de açúcar, língua para fora (tinha-se mordido sem querer) e toca a fazê-la engolir açúcar. Era uma intensa crise de baixa de açúcar. Nunca me tinha contado antes o que poderia acontecer nesses casos e o que fazer. Resultado: a única coisa que me tinha ocorrido, tinha sido gritar por ajuda. Ainda levou algumas horas até os níveis subirem e estar fora de perigo. Ficamos todos a velá-la. São momentos assustadores porque ela podia ter entrado em coma e os tremores lembraram-me incidentes epilépticos, e mesmo esses só vistos na televisão. Quando esses episódios acontecem, é como se o nosso cérebro parasse e demorasse a reactivar-se. A Sílvia não dizia coisa com coisa. Apesar de tudo, nós incentivamo-la a falar, fazendo perguntas mesmo que tontas. Assim que a conseguimos manter de pé, os pais levaram-na para os hospitais de Coimbra onde é seguida desde adolescente. Estabilizou e no mesmo dia, voltou para casa. Outra aventura aconteceu-lhe nos tempos universitários em que ao ir comprar pão, levando um simples porta-moedas, caiu na rua, desanimada. No hospital da Guarda, a médica, sem saber que ela era diabética, pensava que se tratava de uma tentativa de suicídio. Pois, a jovem estava a delirar. Valeu-lhe uma prima que também estudava com ela, correr para o estabelecimento hospitalar e explicar a situação. Hoje em dia, Sílvia tem na carteira o cartão do diabético, mas também na mala ou ao pescoço, um fio com uma placa de informação.

(Imagem retirada da Internet)

Agora, a boa nova: a gravidez desejada, mas não planeada. “Foi assim sem contar, um pouco como uma adolescente. Ups, fiquei grávida. Durante um tratamento experimental que fiz, não podia ter filhos ou tinha que parar. No final, optei por dar alguns dias de descanso a pílula. E pouf, o feijão pegou”, conta às gargalhadas. Normalmente, a gravidez de uma mulher diabética insulinodependente é previamente planeada para que tudo corra o melhor possível e para logo cedo permitirem o uso da bomba de insulina. Com quase seis meses de gestação, Sílvia desdobra-se em cuidados. E verifica minuciosamente a famosa bomba injectora, que colocou aquando as 19 semanas. “A minha glicemia é muito irregular com altos e baixos, tenho de ter ainda mais atenção para conseguir um valor o mais próximo do normal. Um ser depende de mim e por isso vigio o meu estado quase de hora a hora. Até agora as médicas que me seguem afirmam estar tudo bem. Tenho consultas quinzenais na Maternidade Daniel Matos em Coimbra”, informa.

No final, brincamos ao jogo de perguntas e respostas:

Sentimentos e sensações?
“Físicas: enjoos e bailarico do bebe dentro da barriga. Psicológicas: medo, ansiedade e alegria. Receamos sempre que algo corra mal. Contudo, procuro não pensar nisso para não aumentar a ansiedade. As probabilidades de o meu bebé ser diabético são baixas ou praticamente inexistentes. Por isso, tento estar tranquila e fazer tudo bem.

E confrontada com as notícias da gripe A?
“Tendo uma doença crónica, sou obrigatoriamente vacinada neste trimestre. As informações que se ouviram intimidaram-me um bocado. Vou aguardar as ordens das minhas médicas”.

Já pensaste em nome para o bebé?
“Bom, o meu namorado e eu somos um casal muito divertido. A nova graça dele é espicaçar-me, falando que se vai chamar “Cartolina”. Estou mesmo a ver a comédia que vai ser quando a médica nos perguntar – «já escolheram o nome» e nós a responder “Cartolina” em uníssono. Folias à parte, gosto de David para menino e Ângela para menina.

Além de continuar a ser minha grande amiga, o que desejas para os próximos anos? (risos)
“Como costumo dizer que vou viver até aos 90 anos, tenho de fazer por isso, mesmo sendo diabética! E vou lá chegar! Tenho de lutar todos os dias para conseguir ter uma vida o mais saudável possível e viver como toda a gente. Hoje se se descobrisse uma cura para a diabetes, acho que iria estranhar porque isto já faz parte de mim. Tenho a certeza que com o avanço da medicina se vão descobrir novas e melhores formas de tratamento da diabetes para garantir uma boa qualidade de vida! Confio muito no futuro e como o meu está tão próximo. Aponta na agenda: Dia 10 de Junho – dia de Camões e de Portugal, direcção Maternidade Daniel Matos!”

Está é minha amiga Sílvia Rodrigues. Espero que tenham gostado.

























4 comentários:

Helena Teixeira disse...

Olá!
Volto a agradecer a Sílvia e também a dar a notícia de que ela vai ter um Menino!!!
Reli a história e a parte em que eu vivi uma das crises de baixa de açúcar dela,causa-me sempre um arrepio na espinha.
Bem,mas ondas positivas porque em Junho,chega ao mundo exterior o pequeno David :)

Jocas gordas
Lena

AFRICA EM POESIA disse...

Lena
Obrigada por estar aqui,
Eu parei no seu espaço pois gostei...
também as Beiras deixam um arzinho de amor, o meu marido apesar de ter nascido em ANGOLA os pais sáo das Beiras e... fica o BONITO da terra.
Vamos estar e partilhar poesia...
um beijo



SORRISO LINDO


Sorriso lindo...
Sorriso belo...
É alegria dos grandes...
É o sorriso dos meninos...
Que são netos...
É o sorriso...
Dos que seguem...
O seu caminho...
E têm o sorriso...
Mais lindo...
Do mundo!...

LILI LARANJO

Maria Emília disse...

Para além da forma interessante como desenrolou a entrevista, o mais belo de tudo é o menino que vem aí.
Parabéns à futura mãe à Sílvia e também a si.
Im grande beijinho,
Maria Emília

fénix renascida disse...

Aproveito para falar de três petições que eu tenho online:

Uma primeira pela salvaquarda dos direitos naturais de uma mãe (porque hão-de as outras progenitoras, das restantes espécies, ter direito a ter sempre junto de si as crias e as mães humanas não?! Será que é só um direito natural dessas espécies, mas não da nossa?!)

Está em:
http://www.peticaopublica.com/?pi=P2009N575

A segunda petição é pelos deficientes, cidadãos como nós... mas esquecidos, pois não têm acesso à maioria dos serviços públicos (são necessárias rampas, etc)

Está em:
http://www.peticaopublica.com/?pi=P2009N134

Tenho uma terceira, a pedir que o Estado Português apoie financeiramente -e não só- as mães que decidam (quantas não o desejam!!!) acompanhar em casa os primeiros anos dos seus filhos.
Está em http://www.peticaopublica.com/?pi=P2010N1300