quarta-feira, 7 de outubro de 2009

UMA LISBOETA CONQUISTADA POR UM IDANHENSE

Hum… Quem será? A alfacinha de gema chama-se Zélia Cordeiro e conta hoje com 70 anos bem vividos. Nasceu e cresceu em Santa Maria dos Olivais. Em Lisboa, conhece o marido, um idanhense genuíno. Apaixonada, aos 17 anos, casa-se. Três filhos e três netos resultam dessa harmoniosa união.

Zélia Cordeiro
Foto da Olho de Turista

Um belo dia, há aproximadamente 30 anos, dão um passeio até a terra natal do marido: Idanha-a-Nova. “Nós pensávamos que ele não tinha lá família nenhuma. Mas afinal, descobrimos um primo e fomos lá a matança do porco”, conta Zélia. E foi amor à primeira vista. “Adorei Idanha. Apesar de não ter qualquer ligação, houve qualquer coisa na altura que me chamou”, segreda. Nesse dia, iniciou-se o namoro com a bela vila da Beira Interior Sul. As férias eram passadas num bungalow no parque de campismo. Anos depois, investem numa pequena roulote, e de seguida, numa grande.
E de repente surge uma oportunidade. Em 2003, Zélia, que já tinha aderido a Feira Raiana, onde expunha Artes Decorativas, desloca-se até Idanha para novamente participar. No carro, ouve na rádio Monsanto que “uma residência tinha sido construída para os estudantes, fazendo com que um bairro de vivendas estudantis fosse leiloado por carta fechada”. No dia seguinte, a lisboeta já estava a ver as casas com um representante da Câmara. “Nós nem sequer pensávamos em ter casa porque tínhamos a roulote. Mas, ao visitar a casa n.º 60, desço as escadas para o rés-do-chão, e no último grau, vejo a Nossa Senhora do Almortão no chão”, relata emocionada. O casal decide então licitar a casa n.º 60 e a n.º 62. “Só havia duas cartas fechadas para a 60. Tive sorte. Calhou-me. Acho que foi um milagre”, exclama sincera. Zélia sempre foi devota, porém a leucemia que atinge o filho mais velho aos 40 anos, fá-la afeiçoar -se ainda mais à Nossa Senhora do Almortão. “O meu menino salvou-se. Por isso, já era e sempre serei grata a esta Santa”, afirma. E acrescenta, “Do coração, sou beirã. Fiquei presa à terra com a sua beleza e a sua Santa”.

Zélia Cordeiro
Foto da Olho de Turista

Por isso, apesar de morar em Arruda dos Vinhos, volta e meia, está em Idanha. Este facto deve-se também a outra paixão: as Artes Decorativas. Dava aulas em Idanha, Monsanto, São Miguel D’Acha… “Gosto de ensinar e ver que prosseguem o que aprenderam. Sabe, às vezes, no Verão e no Inverno, vinha sozinha na roulote para dar aulas de pintura. Lembro-me das noites de trovoada e temporal e eu, sozinha na roulote, a única no parque de campismo”, murmura. O seu gosto pelos trabalhos manuais saiu reforçado após ter estudado numa academia sénior. “Agarrei-me a isso e ao ensino que me realiza muito à nível pessoal. Por isso, continuo a dar aulas e a motivar pessoas idosas, sozinhas ou viúvas a ocuparem bem o tempo”. As suas obras são muito conhecidas na região e tem pedidos vindos de todo o lado, seja para aulas, seja para trabalhos. A artista confia-nos dois exemplos marcantes: “tive várias encomendas do padre de Linhares da Serra, sobretudo vitrais para a igreja. Realizei também pedidos da Junta de Freguesia de Salvaterra do Extremo: um painel com o monumento em honra do Combatente do Ultramar e dois Adufes pintados à mão – um com o Brasão e o outro com o emblema da Junta”. Rindo-se, Zélia confidencia-nos, “o meu marido fez uma reprodução gráfica do Castelo de Idanha-a-Nova e desafiou-me a fazer um painel em azulejos para a comemoração dos 800 anos. Assim fiz”.
No entanto, é diagnosticada a doença de Parkinson a João Cordeiro. Na mesma altura, Zélia enfrenta uma grande anemia. Contudo, não desanima e começa a pensar no futuro. “Não queríamos depender dos nossos filhos nem na velhice, nem na doença. Então, começamos a pesquisar condomínios que tivessem todas as condições”, explica. A escolha recai no condomínio “Dom Dinis”, localizado na região Oeste, na cidade de Caldas da Rainha. “Lá teremos tudo, apartamento privado, farmácia, mercearia, apoio médico e social…”, descreve Zélia. A sorte bate-lhe novamente a porta: duas meninas esperavam-na em Idanha, solicitando-lhe dois quartos. “São tão queridas e boas moças que aceitei alugar-lhes os quartos. É positivo porque nos irá ajudar no pagamento do tão prezado apartamento”. “Sou uma mulher lutadora que conseguiu realizar os seus sonhos. Somos assim um casal muito feliz. O meu marido, mesmo com esta dura doença, acaba de publicar um livro de poemas dedicados à esta maravilhosa terra”, anuncia orgulhosa, com um sorriso de orelha à orelha.

7 comentários:

Anónimo disse...

Que história de vida maravilhosa, mas com sacrifícios de certeza. A fé é a coisa que mais nos ajuda em situações de sofrimento. Que Deus a ajude a enfrentar tudo com muita serenidade. Bjo.

Pascoalita disse...

Pareceu-me reconhecer esta carinha e como morei mais de 20 anos na freguesia de Santa Maria dos Olivais, onde ainda tenho casa, é bem possível que nos tenhamos cruzado por lá.

Gostei imenso de conhecer a sua história de vida, digna de uma verdadeira beirã, se bem que no caso o seja só de coração.

Eu acredito no ditado popular que diz: "a fé move montanhas" ...

Continue com essa força e que a sorte continue a bafejá-la, são os votos da

Pascoalita

Helena Teixeira disse...

Nem imaginam os trabalhos lindissimos que a Zélia faz.São de ficar lá com os olhos fixos.Ainda penso no quadro de Rosas em 3D.É uma senhora determinada e super comunicativa.O marido também é um mimo.Lançou há pouco tempo um livro de poemas sobre Idanha.

Jocas gordas
Lena

Maria Clara disse...

Minhas amigas, tambem eu sou BEIRÃ, tenho a sorte de viver por cá, mais propriamente em Vila Franca das Naves, Concelho de Trancoso, distrito da Guarda.
Voltarei com calma.
Um beijo, MARIA.

Emília Pinto disse...

Muito interessante e comovente este depoimento; quando se tem garra e fé na vida tudo se supera. Conheço Idanha, embora pouco; passei um fim de semana lá há já alguns anos. Quanto às artes decorativas também já andei com uma senhora aposentada que se dedicou a ensinar a outras. Aprendi um pouco de tudo: vitrais,pintura em tela a óleo, pintura em madeiras, em marfinite, em tecido, fiz arraiolos, ponto de cruz enfim..., arranho qualquer coisa. Agora frequento a Universidade sénior de Famalicão onde aprendo outras coisas e onde aprendi a lidar com blogs, arranjando assim coragem para criar o começar de novo. E é assim, amiga, temos que procurar sempre novas actividades para que nos enriqueçamos cada vez mais. Um beijinho e até breve
Emília

Helena Teixeira disse...

Olá!
Que bom Emília!
Concordo consigo e acho que todas as pessoas reformadas,que tenham um tempito,vontade e saúde,deviam ir para uma Universidade Sénior.É sempre enriquecedor porque aprende-se e também se convive.Não há idades para isso tudo :)

Jocas gordas
Lena

minalopes disse...

Oi Amiga
SArrepiante toda esta história, uma mistura da vida o bom e o mau, mas na Senhor a grande força que a faz vencer e torna possivel o impossivel.
Como se adapta com tanta facilidade, como muda de terra, sempre em busca do bem estar,parabéns, amiga, deve ser única.
Até breve
Herminia(umunicadoras)